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Antonina, Litoral do Paraná, Palestine
Petroleiro aposentado e petista no exílio, usuário dos óculos de pangloss, da gloriosa pomada belladona, da emulsão scott e das pílulas do doutor ross, considero o suflê de chuchu apenas vã tentativa de assar o ar e, erguido em retumbante sucesso físico, descobri que uma batata distraída não passa de um tubérculo desatento. Entre sinos bimbalhantes, pássaros pipilantes, vereadores esotéricos, profetas do passado e áulicos feitos na china, persigo o consenso alegórico e meus dias escorrem em relativo sossego. Comendo minhas goiabinhas regulamentares, busco a tranqüilidade siamesa e quero ser presidente por um dia para assim entender as aflições das camadas menos favorecidas pelas propinas democráticas.

terça-feira, 27 de junho de 2017

Lugar de professor é na sala de aula, e a sala de aula pode ser muitos lugares. Hoje foi na frente da Ópera de Arame

Copiei de Tirzá Ben-Hur Souza 

Cinco lições de uma professora em greve
Por Tirzá Ben-Hur Souza, Professora da RME-Curitiba

Estar na luta com minhas companheiras e companheiros tem sido uma experiência marcante, em muitos sentidos. Hoje, em especial, no momento em que percebi que deveria ficar na frente das grades e tentar com a força que tinha segurar junto com algumas colegas o avanço da polícia, que agia coordenadamente para ganhar espaço pouco a pouco e nos tirar da frente da Ópera de Arame, me fez aprender mais algumas lições.
A primeira delas: Não há desculpa para nenhum adulto, maior de idade, vacinado, dizer que “agiu com violência cumprindo ordens”. Não desculpo a soldada que deu com seu cassetete diversas vezes contra minha mão e abdômen para que eu soltasse a grade. Não desculpo o soldado que com seu coturno – para quem não sabe, coturnos militares são armas, são feitos com alma de ferro para que um chute machuque mesmo – chutou e pisou meu pé algumas vezes e depois disse: “Saia daqui, senhora, senão a senhora vai se machucar!” Não desculpo os dois soldados que em diferentes momentos espirraram spray de pimenta contra o meu rosto diretamente, razão de eu ficar amargando por pelo menos 30 minutos uma dor atroz de queimadura na minha face enquanto segurava a maldita grade que o Greca mandou colocar para proteger seus asseclas.
A segunda lição: Não devemos temer a violência física. Se sabemos pelo que lutamos, a força de nossa alma e espírito extrapola; podemos, sim, resistir a força de quatro ou cinco policiais treinados para agredir sem nos tornarmos nós as agressoras. Uma a uma, algumas mulheres segurando uma grade, demos algum trabalho para uns 50 soldados da PM. Unidas somos mais. 
A terceira lição: Nunca é tarde para ensinar algo a alguém. Minhas palavras para aqueles soldados o tempo todo foi sobre o fato de eles estarem defendendo as pessoas erradas, de como eles não deveriam usar suas armas contra cidadãs desarmadas – olhem para mim, eu dizia. Eu estou desarmada. E vocês estão aí armados até os dentes, protegidos por escudos e capacetes. 
A quarta: A necessidade da união de classe. Nunca antes a luta esquerda x direita fez tanto sentido para mim. Algumas pessoas estão começando a entender a importância da coesão de classe; que o dinheiro tem comprado muitos e que não é o trabalhador que os tem comprado. Que é preciso eleger legisladores comprometidos com a causa trabalhista e os direitos do povo.
A quinta e mais importante de todas, talvez: Lugar de professor é na sala de aula, e a sala de aula pode ser muitos lugares. Hoje foi na frente da Ópera de Arame. Eu queria – Deus sabe o quanto – estar na escola, ensinando crianças, que é o que sei fazer melhor. Mas no Brasil hoje, que achaca seus funcionários públicos, dentre os quais estamos nós, professores, eu vou pra rua. Vou pra rua com dor no coração, com tristeza, mas eu vou me unir orgulhosamente à minha categoria para ao menos mantermos os direitos assim conquistados, com muita luta, por outros que vieram antes de mim. E se perdermos essa batalha, sairemos de cabeça erguida, diante de um prefeito que é um anão político, que hoje demostrou de novo toda sua pequenez.
Aos soldados que me agrediram covardemente hoje, com cassetetes, coturnos e spray de pimenta, repito: Vocês não têm desculpa por agredir outros trabalhadores. Simplesmente parem se seguir ordens injustas. Defendam o povo, apoiem os trabalhadores. Não percam o bonde da história. Essa instituição militarizada e caríssima, que coíbe com força o cidadão desarmado e é implacável contra a população, mas não tem sido competente para combater o crime em suas várias formas, tem seus dias contados. No final das contas, vocês serão apenas trabalhadores sem cassetetes e sem coturnos. E aí, como gostariam de ser tratados?
Ao final da tarde, cheguei a minha casa como tantos outros servidores: destruída pela truculência. Na mídia local, vi fotos do Sr. Rafael Greca comemorando a vitória como um ladrão que festeja os despojos, cercado por seus comparsas. Na TV, vejo propaganda do Governo do Estado, que apoia esse prefeito mesquinho e avarento com os servidores mas pródigo para pagar almoço festivo a seus sectários e perdoar dívidas dos empresários devedores. Diante de tudo isso, o que digo aos meus companheiros de luta é que de novo e mais uma vez um grande grupo de trabalhadores se uniu contra os poderosos. Quantas vezes vimos isso na história do Brasil do mundo? Olho para líderes como Martin Luther King e Gandhi. Morreram por suas causas, porém as causas que defendiam não morreram com eles. Por fim, os poderosos que combatiam é que amargaram a derrota. Assim caminha a humanidade e assim será conosco, professores: A educação, a saúde e a segurança como direitos humanos, ofertados de forma pública, gratuita e com qualidade, nossa bandeira maior, não morrerá e quem viver verá que nossa luta não foi em vão.

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