SOBRE O BLOGUEIRO

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Antonina, Litoral do Paraná, Palestine
Petroleiro aposentado e petista no exílio, usuário dos óculos de pangloss, da gloriosa pomada belladona, da emulsão scott e das pílulas do doutor ross, considero o suflê de chuchu apenas vã tentativa de assar o ar e, erguido em retumbante sucesso físico, descobri que uma batata distraída não passa de um tubérculo desatento. Entre sinos bimbalhantes, pássaros pipilantes, vereadores esotéricos, profetas do passado e áulicos feitos na china, persigo o consenso alegórico e meus dias escorrem em relativo sossego. Comendo minhas goiabinhas regulamentares, busco a tranqüilidade siamesa e quero ser presidente por um dia para assim entender as aflições das camadas menos favorecidas pelas propinas democráticas.

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Os eleitos de Deus para livrar o Brasil de todo o mal. Nem que seja com fogueira.

Copiei do Tijolaço
dalton 

O coordenador do Ministério Público na Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol, como noticiou a Folha, fez ontem uma pregação numa igreja evangélica defendendo a antecipação de penas e outros agravamentos para os que, segundo a ótica do MP, estiverem envolvidos em corrupção.

Nem vou falar da impropriedade de fazer este tipo de campanha num púlpito de igreja, muito menos do absurdo de dizer que ” acredita que “Deus colabora com a Lava Jato” (segundo o repórter Bernardo Mello Franco), ou que misturar religião e sistema judicial e suas penas, ao que eu saiba, deu na Inquisição e suas fogueiras.

Chamo atenção para outro aspecto.

É curioso que um dos líderes do grupo de procuradores num conjunto de quase 200 inquéritos, 120 réus, dezenas de presos, muitos deles por quatro meses, sem acusação formal contra si ainda queira – e que, por isso é preciso endurecer a legislação .

É o caso de perguntar em que a legislação atual impediu os promotores e o o Dr. Sérgio Moro de agir.

Não prenderam quem quiseram, pelo tempo que quiseram, fizeram buscas e apreensões onde desejaram?

E não saíram as primeiras condenações, com penas de até 15 anos para os que não quiseram ceder à pressão pela delação e outras, já bem mais brandas e domiciliares para quem empurrou para outros a iniciativa do mesmo crime de corrupção?

Não colocaram em celas a nata da elite econômica, não assistiram à renúncia de vários dos mais renomados advogados dos réus e viram suas defesas serem assumidas por ávidos defensores da colaboração – não a Divina – premiada, como esta misteriosa Dra. Beatriz Catta Preta, que afora pede o boné, embora atrás dela estejam, por alguma razão, os “paus-mandados” de Eduardo Cunha na CPI da Petrobras?

O que será mais que os doutos representantes do MP desejam? Certamente o Dr. Dalton, que se define no Twitter como “seguidor de Jesus”, como se isso fosse currículo, não quer sugerir mais e mais graves coações contra os acusados.

Está aí a danação do Dr. Dalton, integrante de uma casta pura, escolhida, designada por Deus para abolir o pecado dos ímpios, nem que para isso seja necessário incinerar gente na fogueira.

Deus colabora, não é Dr. Dalton? Por meio de seus eleitos, todos integrantes do MP, da PF, instituições oniscientes, onipresentes e, agora, oniscientes.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Mas uma creança pode cheirar essa manconha por engano e morrer!

Copiei do Pedro Munhoz, impagável

Dois (2) pés de maconha ameaçavam a paz da vizinhança e a inocência das crianças na solar e amigável Camboriú, enquanto se riam das leis ali, plantadas à vista de todos, em uma sacada. Policiais se deslocaram ao local para neutralizar o perigo, mas se depararam com uma porta fechada. Tocaram a campainha mais uma vez, mas as plantas, diante da certeza de impunidade que assola nossa triste nação, recusaram-se a abrir. "E agora?", perguntaram-se os laboriosos agentes da lei. "Vamos deixar essa manconha aí na sacada rindo da gente? Mas uma creança pode cheirar essa manconha por engano e morrer!", ponderou um deles.
Foi quando tiveram a ideia de voltar para o batalhão e consultar a Dona Neide da cantina, alcunhada de Inteligência da PM por sua legendária habilidade com as palavras cruzadas. Dona Neide pensou por alguns minutos e se lembrou que tinha visto um filme, uma vez, onde policiais de elite invadiam o andar de um prédio fazendo uso daquelas cordinhas, como elas se chamam mesmo? Rapel!
Os dois cops, amando a ideia, ignoram todos os outros chamados a que poderiam estar atendendo e, depois de se enfiarem em belíssimos trajes de astronauta, partem de novo para o local do crime, munidos, dessa vez, de cordinhas. Penduram-se lá no alto, como o magaiver faria, e, harmoniosamente, descem pendurados na cordinha, andar por andar, enquanto desferem pesadas botinadas na parede recém pintada do prédio.
No caminho, assustaram uma velhinha, que saia do banho no oitavo andar, e disso riram-se efusivamente enquanto desciam rumo às malignas plantinhas. Lá embaixo, a multidão, ansiosa, amedrontada, esperava que os agentes da lei conseguissem conter o agente da Al Qaeda escondido no prédio, ou que desarmassem a bomba nuclear russa que ali devia estar instalada. Mal sabiam eles que os infatigáveis homens da lei lutavam contra algo muito, muito mais perigoso.
Chegando à sacada, pularam os dois sobre as plantas aos gritos de teje presos meliantes vagabundos e as plantas, intimidadas com a coragem dos dois homens, nem mesmo reagiram.
E assim, mais uma vez a PM salvou o dia. Obrigado, PM.


Copiei a imagem de Click Camboriu
Polícia Militar / Divulgação

terça-feira, 28 de julho de 2015

Núcleo de Estudos de Gênero da UFPR produz manifesto sobre exclusão das discussões de gênero e diversidade sexual nos Planos de Educação

Copiei de UFPR

O Núcleo de Estudos de Gênero da Universidade Federal do Paraná é um grupo de pesquisa multidisciplinar com vinte e um anos de existência, cuja produção científica é reconhecida nacional e internacionalmente tendo apoio  financeiro das agências nacionais de fomento à ciência e à pesquisa (CAPES e CNPq) tanto individual quanto institucionalmente.

Frente aos recentes debates públicos relacionados à aprovação dos planos municipais e estaduais de educação em âmbito legislativo, nós, pesquisadoras e pesquisadores do Núcleo de Estudos de Gênero da UFPR, repudiamos publicamente a nomenclatura “ideologia de gênero” que está sendo usada para deslegitimar uma área de estudos, de pesquisa e de defesa dos direitos humanos que há pelo menos meio século se consolida no Brasil e outros países, nas mais prestigiadas universidades e centros de pesquisa. “Ideologia” é um termo ambíguo e controverso, sem definição consensual, que carrega uma forte conotação negativa relativa à falsidade e/ou enganação. Acusar grupos de pesquisa universitários de defender e praticar “ideologia de gênero” é uma difamação infundada, desrespeitosa e irresponsável que responde a interesses políticos antidemocráticos. Nós não praticamos nem defendemos “ideologia de gênero”. Pelo contrário, pesquisadoras e pesquisadores dos estudos de gênero sempre atuaram e continuarão atuando no sentido de compreender como sistemas de dominação e de exclusão são construídos e se tornam permanentes a partir da oposição entre homens e mulheres. Nossos estudos e nossos esforços visam compreender como ideologias de gênero são construídas e originam violência, discriminação e exclusão.  Denunciamos e combatemos a violência, os preconceitos e a discriminação contra mulheres e pessoas LGBTT, lutando para tornar nossa sociedade menos injusta e menos desigual. Violência, discriminação e inferiorização são componentes centrais da ideologia de gênero que está presente no nosso cotidiano, nas escolas, nos locais de trabalho e nas representações da mídia.

A retirada dos termos “diversidade de gênero” e “orientação sexual” dos planos municipais e estaduais de educação é um retrocesso na defesa dos direitos humanos e um desrespeito à Constituição Federal. A presença das temáticas de gênero e diversidade nos currículos em todos os níveis de ensino é imprescindível para promover uma formação cidadã. A escola é um dos locais fundamentais para garantir a socialização democrática e isso só será feito com a promoção do debate e não com o silenciamento dogmático. Excluir das salas de aula conhecimento científico relevante e reconhecido equivale a censurar a liberdade de pensamento e expressão.

Desejamos que estas iniciativas antidemocráticas e obscurantistas que pressionam deputados e vereadores pela exclusão de toda uma área de conhecimento dos currículos representem uma oportunidade para nosso próprio aprendizado político. Que a necessidade de defesa da legitimidade do nosso trabalho sirva como alavanca para ampliar nosso espaço público e garantir maior articulação entre grupos de pesquisa nacionais e internacionais. Que nossas redes de pesquisa e de ação fortaleçam sua atuação para que “diversidade de gênero” e “orientação sexual” sejam reconhecidas não como “ideologias”, muito menos como “perversões”, que estão na cabeça ou na fantasia daqueles que difundem mentiras pelo proselitismo, mas sim como conceitos acadêmicos cuja circulação tem como finalidade promover um país mais democrático, com menos preconceito e capaz de ensinar as crianças e os jovens a não temer o conhecimento, mas a participar plenamente das transformações em curso. Uma educação que não forme pessoas servis e covardes, mas que saibam pensar livremente. 

Pesquisadoras e pesquisadores do Núcleo de Estudos de Gênero da Universidade Federal do Paraná – www.generos.ufpr.br

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Poeminha para as Mães Pela Igualdade

Elas, danadas, 
Proclamam igualdade

Elas, poderosas,
Abraçam as crias

Elas, invencíveis,
Alumiam tudo

Elas, coragem,
Não se escondem

Elas, proféticas, 
Proclamam amor infinito
Amor sem condições
Amor como deve ser o amor
Só amar
Só lançar-se no ar
Sem paraquedas

São as minhas mães

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Anistia tem idade?


Do meu amigo Nelson Sabbagh

ele invadiu a faculdade de história da ufpr
arrancou-a pelos cabelos da carteira,
estapeou-a,
levou-a ao doi-codi,
estuprou-a
queimou seus seios com um continental sem filtro
ao som de dom e ravel
salvo o brasil
avivou a churrasqueira
( no rancho dos oficiais )
com livros de neruda e maiakovski
e fêz de guardanapo
seus poemas de pé-quebrado
ela foi condenada a 3 anos
e cumpriu pena no ahu
por sonhar
ele vive por aí
com outra identidade
ANISTIA TEM IDADE ?

Resta, pois, que Ronaldo Caiado é, por herança genética, um pulha absoluto

Copiei a imagem de Goiás24Horas 
ronaldo-caiado
Ronaldo Caiado: pulha absoluto por herança genética

Estou a ler 'LUÍS CARLOS PRESTES - Um revolucionário entre dois mundos", de Daniel Aarão Reis, Companhia das Letras e, ao saber que este pulha absoluto chamou Lula de "bandido" (vejam aqui), lembrei-me deste trecho (fls. 78) que, ao relatar que forças combatiam a lendária Coluna Prestes, faz referência direta a TOTÓ CAIADO, certamente parente de Ronaldo Caiado, que não passa de um jagunção vestido com ternos bem cortados. Vejam, pois, quem de fato é bandido, geração após geração (Meus destaques):

"Constituídas quase sempre pelas forças públicas, ou por tropas arregimentadas pelos senhores de terra - compostas pelos chamados "jagunços" -, barbarizavam as populações, atribuindo seus crimes aos rebeldes. TOTÓ CAIADO, grande senhor de terra de Goiás, inauguraria um padrão que mais tarde seria retomado, em larga escala, pelos senhores do Nordeste, e da Bahia em particular, com seus "batalhões patrióticos": ROUBAVA E PILHAVA, VENDENDO DEPOIS O PRODUTO DO SAQUE EM MERCADOS LEGAIS E ILEGAIS."

De modo que, meninos e meninas, Ronaldo Caiado é, até geneticamente, um pulha absoluto.

Querem mais?

Vejam aqui suas relações com trabalho escravo; e aqui suas relações com o esquemão criminoso de Carlinhos Cachoeira. 

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Arrocho, com ou sem cuspe, é arrocho, no Brasil ou na Grécia

O Serviço de Alto Falantes Ornitorrinco, hoje a serviço da Virgencita Botinuda e Financeira, lamenta dizer que a Grécia é aqui, meninos e meninas da estrelinha (que guardo aqui no peito, friso), e não se trata de mera comparação entre as duas economias, e nem da - vá lá - intensidade do arrocho ou, permitam-me a dura franqueza, se o nosso arrocho é aplicado com gel lubrificante. Lá e aqui o arrocho é para pagar a banca à custa do nosso couro.
---xxx--- 

Copiei do Jornal GGN
Especialista brasileira em dívida pública, na Grécia, compara os países

Da Carta Capital

“A dívida pública é um mega esquema de corrupção institucionalizado”

Por Renan Truffi

Para ex-auditora da Receita, convidada pelo Syriza para analisar a dívida grega, sistema atual provoca desvio de recursos públicos para o mercado financeiro

Dois meses antes de o governo Dilma Rousseff anunciar oficialmente o corte de 70 bilhões de reais do Orçamento por conta do ajuste fiscal, uma brasileira foi convidada pelo Syriza, partido grego de esquerda que venceu as últimas eleições, para compor o Comitê pela Auditoria da Dívida Grega com outros 30 especialistas internacionais. A brasileira em questão é Maria Lucia Fattorelli, auditora aposentada da Receita Federal e fundadora do movimento “Auditoria Cidadã da Dívida” no Brasil. Mas o que o ajuste tem a ver com a recuperação da economia na Grécia? Tudo, diz Fattorelli. “A dívida pública é a espinha dorsal”.

Enquanto o Brasil caminha em direção à austeridade, a estudiosa participa da comissão que vai investigar os acordos, esquemas e fraudes na dívida pública que levaram a Grécia, segundo o Syriza, à crise econômica e social. “Existe um ‘sistema da dívida’. É a utilização desse instrumento [dívida pública] como veículo para desviar recursos públicos em direção ao sistema financeiro”, complementa Fattorelli.

Esta não é a primeira vez que a auditora é acionada para esse tipo de missão. Em 2007, Fattorelli foi convidada pelo presidente do Equador, Rafael Correa, para ajudar na identificação e comprovação de diversas ilegalidades na dívida do país. O trabalho reduziu em 70% o estoque da dívida pública equatoriana.

Em entrevista a CartaCapital, direto da Grécia, Fattorelli falou sobre como o “esquema”, controlado por bancos e grandes empresas, também se repete no pagamento dos juros da dívida brasileira, atualmente em 334,6 bilhões de reais, e provoca a necessidade do tal ajuste.

Leia a entrevista:

CartaCapital: O que é a dívida pública?

Maria Lucia Fattorelli: A dívida pública, de forma técnica, como aprendemos nos livros de Economia, é uma forma de complementar o financiamento do Estado. Em princípio, não há nada errado no fato de um país, de um estado ou de um município se endividar, porque o que está acima de tudo é o atendimento do interesse público. Se o Estado não arrecada o suficiente, em princípio, ele poderia se endividar para o ingresso de recursos para financiar todo o conjunto de obrigações que o Estado tem. Teoricamente, a dívida é isso. É para complementar os recursos necessários para o Estado cumprir com as suas obrigações. Isso em principio.

CC: E onde começa o problema? 

MLF: O problema começa quando nós começamos a auditar a dívida e não encontramos contrapartida real. Que dívida é essa que não para de crescer e que leva quase a metade do Orçamento? Qual é a contrapartida dessa dívida? Onde é aplicado esse dinheiro? E esse é o problema. Depois de várias investigações, no Brasil, tanto em âmbito federal, como estadual e municipal, em vários países latino-americanos e agora em países europeus, nós determinamos que existe um sistema da dívida. O que é isso? É a utilização desse instrumento, que deveria ser para complementar os recursos em benefício de todos, como o veículo para desviar recursos públicos em direção ao sistema financeiro. Esse é o esquema que identificamos onde quer que a gente investigue.

CC: E quem, normalmente, são os beneficiados por esse esquema? Em 2014, por exemplo, os juros da dívida subiram de 251,1 bilhões de reais para 334,6 bilhões de reais no Brasil. Para onde está indo esse dinheiro de fato?

MLF: Nós sabemos quem compra esses títulos da dívida porque essa compra direta é feita por meio dos leilões. O processo é o seguinte: o Tesouro Nacional lança os títulos da dívida pública e o Banco Central vende. Como o Banco Central vende? Ele anuncia um leilão e só podem participar desse leilão 12 instituições credenciadas. São os chamados dealers. A lista dos dealers nós temos. São os maiores bancos do mundo. De seis em seis meses, às vezes, essa lista muda. Mas sempre os maiores estão lá: Citibank, Itaú, HSBC...é por isso que a gente fala que, hoje em dia, falar em dívida externa e interna não faz nem mais sentido. Os bancos estrangeiros estão aí comprando diretamente da boca do caixa. Nós sabemos quem compra e, muito provavelmente, eles são os credores porque não tem nenhuma aplicação do mundo que pague mais do que os títulos da dívida brasileira. É a aplicação mais rentável do mundo. E só eles compram diretamente. Então, muito provavelmente, eles são os credores.

CC: Por quê provavelmente?

MLF: Por que nem mesmo na CPI da Dívida Pública, entre 2009 e 2010, e olha que a CPI tem poder de intimação judicial, o Banco Central informou quem são os detentores da dívida brasileira. Eles chegaram a responder que não sabiam porque esses títulos são vendidos nos leilões. O que a gente sabe que é mentira. Porque, se eles não sabem quem são os detentores dos títulos, para quem eles estão pagando os juros? Claro que eles sabem. Se você tem uma dívida e não sabe quem é o credor, para quem você vai pagar? Em outro momento chegaram a falar que essa informação era sigilosa. Seria uma questão de sigilo bancário. O que é uma mentira também. A dívida é pública, a sociedade é que está pagando. O salário do servidor público não está na internet? Por que os detentores da dívida não estão? Nós temos que criar uma campanha nacional para saber quem é que está levando vantagem em cima do Brasil e provocando tudo isso.

CC: Qual é a relação entre os juros da dívida pública e o ajuste fiscal, em curso hoje no Brasil?

MLF: Todo mundo fala no corte, no ajuste, na austeridade e tal. Desde o Plano Real, o Brasil produz superávit primário todo ano. Tem ano que produz mais alto, tem ano que produz mais baixo. Mas todo ano tem superávit primário. O que quer dizer isso, superávit primário? Que os gastos primários estão abaixo das receitas primárias. Gasto primários são todos os gastos, com exceção da dívida. É o que o Brasil gasta: saúde, educação...exceto juros. Tudo isso são gastos primários. Se você olhar a receita, o que alimenta o orçamento? Basicamente a receita de tributos. Então superávit primário significa que o que nós estamos arrecadando com tributos está acima do que estamos gastando, estão está sobrando uma parte.

CC: E esse dinheiro que sobra é para pagar os juros dívida pública?

MLF: Isso, e essa parte do superávit paga uma pequena parte dos juros porque, no Brasil, nós estamos emitindo nova dívida para pagar grande parte dos juros. Isso é escândalo, é inconstitucional. Nossa Constituição proíbe o que se chama de anatocismo. Quando você contrata dívida para pagar juros, o que você está fazendo? Você está transformando juros em uma nova divida sobre a qual vai incidir juros. É o tal de juros sobre juros. Isso cria uma bola de neve que gera uma despesa em uma escala exponencial, sem contrapartida, e o Estado não pode fazer isso. Quando nós investigamos qual é a contrapartida da dívida interna, percebemos que é uma dívida de juros sobre juros. A divida brasileira assumiu um ciclo automático. Ela tem vida própria e se retroalimenta. Quando isso acontece, aquele juros vai virar capital.  E, sobre aquele capital, vai incidir novos juros. E os juros seguintes, de novo vão se transformados em capital. É, por isso, que quando você olha a curva da dívida pública, a reta resultante é exponencial. Está crescendo e está quase na vertical. O problema é que vai explodir a qualquer momento.

CC: Explodir por quê?

MLF: Por que o mercado – quando eu falo em mercado, estou me referindo aos dealers – está aceitando novos títulos da dívida como pagamento em vez de receber dinheiro moeda? Eles não querem receber dinheiro moeda, eles querem novos títulos, por dois motivos. Por um lado, o mercado sabe que o juros vão virar novo título e ele vai ter um volume cada vez maior de dívidas para receber. Segundo: dívida elevada tem justificado um continuo processo de privatização. Como tem sido esse processo? Entrega de patrimônio cada vez mais estratégico, cada vez mais lucrativo. Nós vimos há pouco tempo a privatização de aeroportos. Não é pouca coisa os aeroportos de Brasília, de São Paulo e do Rio de Janeiro estarem em mãos privadas. O que no fundo esse poder econômico mundial deseja é patrimônio e controle. A estratégia do sistema da dívida é a seguinte: você cria uma dívida e essa dívida torna o pais submisso. O país vai entregar patrimônio atrás de patrimônio. Assim nós já perdemos as telefônicas, as empresas de energia elétrica, as hidrelétricas, as siderúrgicas. Tudo isso passou para propriedade desse grande poder econômico mundial. E como é que eles [dealers] conseguem esse poder todo? Aí entra o financiamento privado de campanha. É só você entrar no site do TSE [Tribunal Superior Eleitoral] e dar uma olhada em quem financiou a campanha desses caras. Ou foi grande empresa ou foi banco. O nosso ataque em relação à dívida é porque a dívida é o ponto central, é a espinha dorsal do esquema.

CC: Como funcionaria a auditoria da dívida na prática? Como diferenciar o que é dívida legítima e o que não é?

MLF: A auditoria é para identificar o esquema de geração de dívida sem contrapartida. Por exemplo, só deveria ser paga aquela dívida que preenche o requisito da definição de dívida. O que é uma dívida? Se eu disser para você: ‘Me paga os 100 reais que você me deve’. Você vai falar: “Que dia você me entregou esses 100 reais?’ Só existe dívida se há uma entrega. Aconteceu isso aqui na Grécia. Mecanismos financeiros, coisas que não tinham nada ver com dívida, tudo foi empurrado para as estatísticas da dívida. Tudo quanto é derivativo, tudo quanto é garantia do Estado, os tais CDS [Credit Default Swap - espécie de seguro contra calotes], essa parafernália toda desse mundo capitalista 'financeirizado'. Tudo isso, de uma hora para outra, pode virar dívida pública. O que é a auditoria? É desmascarar o esquema. É mostrar o que realmente é dívida e o que é essa farra do mercado financeiro, utilizando um instrumento de endividamento público para desviar recursos e submeter o País ao poder financeiro, impedindo o desenvolvimento socioeconômico equilibrado. Junto com esses bancos estão as grandes corporações e eles não têm escrúpulos. Nós temos que dar um basta nessa situação. E esse basta virá da cidadania. Esse basta não virá da classe politica porque eles são financiados por esse setor. Da elite, muito menos porque eles estão usufruindo desse mecanismo. A solução só virá a partir de uma consciência generalizada da sociedade, da maioria. É a maioria, os 99%, que está pagando essa conta. O Armínio Fraga [ex-presidente do Banco Central] disse isso em depoimento na CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito] da Dívida, em 2009, quando perguntado sobre a influência das decisões do Banco Central na vida do povo. Ele respondeu: “Olha, o Brasil foi desenhado para isso”. 

CC: Quanto aproximadamente da dívida pública está na mão dos bancos e de grandes empresas? O Tesouro Direto, que todos os brasileiros podem ter acesso, corresponde a que parcela do montante?

MLF: Essa história do Tesouro Direto é para criar a impressão que a dívida pública é um negócio correto, que qualquer um pode entrar lá e comprar. E, realmente, se eu ou você comprarmos é uma parte legítima. Agora, se a gente entrar lá e comprar, não é direto. É só para criar essa ilusão. Tenta entrar lá para comprar um título que seja. Você vai chegar numa tela em que vai ter que escolher uma instituição financeira. E essa instituição financeira vai te cobrar uma comissão que não é barata. Ela não vai te pagar o juros todo do título, ela vai ficar com um pedaço. O banco, o dealer, que compra o título da dívida é quem estabelece os juros. Ele estabelece os juros que ele quer porque o governo lança o título e faz uma proposta de juros. Se, na hora do leilão, o dealer não está contente com aquele patamar de juros, ele não compra. Ele só compra quando o juros chega no patamar que ele quer. Invariavelmente, os títulos vêm sendo vendidos muito acima da Selic [taxa básica de juros]. Em 2012, quando a Selic deu uma abaixada e chegou a 7,25%, nós estávamos acompanhando e os títulos estavam sendo vendidos a mais de 10% de juros. E eles sempre compram com deságio. Se o título vale 1000 reais, ele compra por 960 reais ou 970 reais, depende da pressão que ele quer impor no governo aquele dia. Olha a diferença. Se você compra no Tesouro Direto, você não vai ter desconto. Pelo contrário, você vai ter que pagar uma comissão. E você também não vai mandar nos juros. É uma operação totalmente distinta da operação direta de verdade que acontece lá no leilão.

CC: Por que é tão difícil colocar a auditoria em prática? Como o mercado financeiro costuma reagir a uma auditoria?

MLF: O mercado late muito, mas na hora ele é covarde. Lá no Equador, quando estávamos na reta final e vários relatórios preliminares já tinham sido divulgados, eles sabiam que tínhamos descoberto o mecanismo de geração de dívida, várias fraudes. Eles fizeram uma proposta para o governo de renegociação. Só que o Rafael Correa [atual presidente do Equador] não queria negociar. Ele queria recomprar e botar um ponto final. Porque quando você negocia, você dá uma vida nova para a dívida. Você dá uma repaginada na dívida. Ele não queria isso. Ele queria que o governo dele fosse um governo que marcasse a história do Equador. Ele sabia que, se aceitasse, ficaria subjugado à dívida. Ele foi até o fim, fez uma proposta e o que os bancos fizeram? 95% dos detentores dos títulos entregaram. Aceitaram a oferta de recompra de no máximo 30% e o Equador eliminou 70% de sua dívida externa em títulos. No Brasil, durante os dez meses da CPI da Dívida, a Selic não subiu. Foi incrível esse movimento. Nós estamos diante de um monstro mundial que controla o poder financeiro e o poder político com esquemas fraudulentos. É muito grave isso. Eu diria que é um mega esquema de corrupção institucionalizado.

CC: O mercado financeiro e parte da imprensa costumam classificar a auditoria da dívida de calote. Por que a auditoria da dívida não é calote?

MLF: A auditoria vai investigar e não tem poder de decisão do que vai ser feito. A auditoria só vai mostrar. No Equador, a auditoria só investigou e mostrou as fraudes, mecanismos que não eram dívidas, renúncias à prescrição de dívidas. O que é isso? É um ato nulo. Dívidas que já estavam prescritas. Uma dívida prescrita é morta. E isso aconteceu no Brasil também na época do Plano Brady, que transformou dívidas vencidas em títulos da dívida externa. Depois, esses títulos da dívida externa foram usados para comprar nossas empresas que foram privatizadas na década de 1990: Vale, Usiminas...tudo comprado com título da dívida em grande parte. Você está vendo como recicla? Aqui, na Grécia, o país está sendo pressionado para pagar uma dívida ilegítima. E qual foi a renegociação feita pelo [Geórgios] Papandréu [ex-primeiro-ministro da Grécia]? Ele conseguiu um adiamento em troca de um processo de privatização de 50 bilhões de euros. Esse é o esquema. Deixar de pagar esse tipo de dívida é calote? A gente mostra, simplesmente, a parte da dívida que não existe, que é nula, que é fraude. No dia em que a gente conseguir uma compreensão maior do que é uma auditoria da dívida e a fragilidade que lado está do lado de lá, a gente muda o mundo e o curso da história mundial.

CC: Em comparação com o ajuste fiscal, que vai cortar 70 bilhões de reais de gastos, tem alguma estimativa de quanto a auditoria da dívida pública poderia economizar de despesas para o Brasil?

MLF: Essa estimativa é difícil de ser feita antes da auditoria, porém, pelo que já investigamos em termos de origem da dívida brasileira e desse impacto de juros sobre juros, você chega a estimativas assustadoras. Essa questão de juros sobre juros eu abordei no meu último livro. Nos últimos anos, metade do crescimento da divida é nulo. Eu só tive condição de fazer o cálculo de maneira aritmética. Ficou faltando fazer os cálculos de 1995 a 2005 porque o Banco Central não nos deu os dados. E mesmo assim, você chega a 50% de nulidade da dívida, metade dela. Consequentemente para os juros seria o mesmo [montante]. Essa foi a grande jogada do mercado financeiro no Plano Real porque eles conseguiram gerar uma dívida maluca. No início do Plano Real os juros brasileiros chegaram a mais de 40% ao ano. Imagina uma divida com juros de 40% ao ano? Você faz ela crescer quase 50% de um ano para o outro. E temos que considerar que esses juros são mensais. O juro mensal, no mês seguinte, o capital já corrige sobre o capital corrigido no mês anterior. Você inicia um processo exponencial que não tem limite, como aconteceu na explosão da dívida a partir do Plano Real. Quando o Plano Real começou, nossa dívida estava em quase 80 bilhões de reais. Hoje ela está em mais de três trilhões de reais. Mais de 90% da divida é de juros sobre juros.

CC: E isso é algo que seria considerado ilegal na auditoria da dívida pública?

MLF: É mais do que ilegal, é inconstitucional. Nossa Constituição proíbe juros sobre juros para o setor público. Tem uma súmula do Supremo Tribunal Federal, súmula 121, que diz que ainda que tenha se estabelecido em contrato, não pode. É inconstitucional. Tudo isso é porque tem muita gente envolvida, favorecida e mal informada. Esses tabus, essa questão do calote, muita gente fala isso. Eles tentam desqualificar. Falamos em auditoria e eles falam em calote. Mas estou falando em investigar. Se você não tem o que temer, vamos abrir os livros. Vamos mostrar tudo. Se a dívida é tão honrada, vamos olhar a origem dessa dívida, a contrapartida dela.

CC: Ao longo da entrevista, a senhora citou diversos momentos da história recente do Brasil, o que mostra que esse problema vem desde o governo Fernando Henrique Cardoso, e passou pelas gestões Lula e Dilma. Mas como a questão da dívida se agravou nos últimos anos? A dívida externa dos anos 1990 se transformou nessa dívida interna de hoje?

MLF: Houve essa transformação várias vezes na nossa história. Esses movimentos foram feitos de acordo com o interesse do mercado. Tanto de interna para externa, como de externa para interna, de acordo com o valor do dólar. Esses movimentos são feitos pelo Banco Central do Brasil em favor do mercado financeiro, invariavelmente. Quando o dólar está baixo, e seria interessante o Brasil quitar a dívida externa, por precisar de menos reais, se faz o contrário. Ele contrai mais dívida em dólar. Esses movimentos são sempre feitos contra nós e a favor do mercado financeiro.

CC: E o pagamento da dívida externa, em 2005?

MLF: O que a gente critica no governo Lula é que, para pagar a dívida externa em 2005, na época de 15 bilhões de dólares, ele emitiu reais. Ele emitiu dívida interna em reais. A dívida com o FMI [Fundo Monetário Internacional] era 4% ao ano de juros. A dívida interna que foi emitida na época estava em média 19,13% de juros ao ano. Houve uma troca de uma dívida de 4% ao ano para uma de 19% ao ano. Foi uma operação que provocou danos financeiros ao País. E a nossa dívida externa com o FMI não era uma dívida elevada, correspondia a menos de 2% da dívida total. E por que ele pagou uma dívida externa para o FMI que tinha juros baixo? Porque, no inconsciente coletivo, divida externa é com o FMI. Todo mundo acha que o FMI é o grande credor. Isso, realmente, gerou um ganho político para o Lula e uma tranquilidade para o mercado. Quantos debates a gente chama sobre a dívida e as pessoas falam: “Esse debate já não está resolvido? Já não pagamos a dívida toda?’. Não são poucas as pessoas que falam isso por conta dessa propaganda feita de que o Lula resolveu o problema da dívida. E o mercado ajuda a criar essas coisas. Eu falo o mercado porque, na época, eles também exigiram que a Argentina pagasse o FMI. E eles também pagaram de forma antecipada. Você vê as coisas aconteceram em vários lugares, de forma simultânea. Tudo bem armado, de fora para dentro, na mesma época.

CC: O que a experiência grega de auditoria da dívida poderia ensinar ao Brasil, na sua opinião?

MLF: São muitas lições. A primeira é a que ponto pode chegar esse plano de austeridade fiscal. Os casos aqui da Grécia são alarmantes. Em termos de desemprego, mais de 100 mil jovens formados deixaram o país nos últimos anos porque não têm emprego. Foram para o Canadá, Alemanha, vários outros países. A queda salarial, em média, é de 50%. E quem está trabalhando está feliz porque normalmente não tem emprego. Jornalista, por exemplo, não tem emprego. Tem até um jornalista que está colaborando com a nossa comissão e disse que só não está passando fome por conta da ajuda da família. A maioria dos empregos foram flexibilizados, as pessoas não têm direitos. Serviços de saúde fechados, escolas fechadas, não tem vacina em posto de saúde. Uma calamidade terrível. Trabalhadores virando mendigos de um dia para o outro. Tem ruas aqui em que todas as lojas estão fechadas. Todos esses pequenos comerciantes ou se tornaram dependentes da família ou foram para a rua ou, pior, se suicidaram. O número de suicídios aqui, reconhecidamente por esse problema econômico, passa de 5 mil. Tem vários casos de suicídio em praça pública para denunciar. Nesses dias em que estou aqui, houve uma homenagem em frente ao Parlamento para um homem que se suicidou e deixou uma carta na qual dizia que estava entregando a vida para que esse plano de austeridade fosse denunciado.

domingo, 5 de julho de 2015

Para muitos petistas que só mijam na caixinha de areia, a Grécia não é aqui


O eloquente silêncio do PT sobre a vitoriosa reação do povo grego ao arrocho criminoso da banca é ofensivo a todos nós. 
Repito: ofensivo é o silêncio da direção nacional petista.
O PT virou suco e azedou, mas, como petista de 32 anos de militância espero que o suco não esteja (muito) vencido. 
É o que me resta.
A Grécia é aqui mas, para aqueles petistas majoritários e sofregamente "poderosos" - que só mijam na caixinha de areia da área de serviço, a Grécia não é aqui.
A Grécia é lugar nenhum ou, quando muito, iogurte.