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Antonina, Litoral do Paraná, Palestine
Petroleiro aposentado e petista no exílio, usuário dos óculos de pangloss, da gloriosa pomada belladona, da emulsão scott e das pílulas do doutor ross, considero o suflê de chuchu apenas vã tentativa de assar o ar e, erguido em retumbante sucesso físico, descobri que uma batata distraída não passa de um tubérculo desatento. Entre sinos bimbalhantes, pássaros pipilantes, vereadores esotéricos, profetas do passado e áulicos feitos na china, persigo o consenso alegórico e meus dias escorrem em relativo sossego. Comendo minhas goiabinhas regulamentares, busco a tranqüilidade siamesa e quero ser presidente por um dia para assim entender as aflições das camadas menos favorecidas pelas propinas democráticas.

sábado, 13 de setembro de 2014

De Ingrid Soares para o menino João Donatti

Copiei de Ingrid Soares

Ô, meu menino, vem cá.
Deixa eu limpar o teu corpo. Cospe longe esse papel cheio de ódio que te enfiaram na boca. Tua boca é pra beijar, pra sorrir, pra falar de amor.
Ei, vamos cuidar dessas pernas, que desse jeito, você não vai correr mundo. E o mundo é pra correr.
Vem cá, João, se afasta dessa gente que tem medo de liberdade.
Fica aqui, fica do meu lado que eu te protejo. 
Pode ser, pode ser à vontade que você tem vontade de ser.
Desculpa por toda essa confusão, é que nessa mania que a gente tem de se levar a sério, um monte de gente saiu por aí pregando certezas e erradezas da vida. E a gente tão pequeno. E a gente tão mesquinho. E a gente se afastando de tudo o que realmente é importante.
Ai, que dor. Essa impotência sangra muito, menino, fragmenta os ossos, diminui.
Queria ter voz firme pra proclamar a alforria, pra mandar te deixarem solto, livre, bonito, em paz.
Mas eu nada. 
Vou rezar uma ladainha e mastigar o conformismo.
Vou cantar baixinho pra ver se a tristeza se desinteressa de mim.
Vou falar de você. Vou levantar uma bandeira com o teu nome nas praças.
Veja só, meu pequeno, tem gente na tv dizendo que o que te fizeram tá é correto. 
Que loucura essa tv, que loucura esse mundo. 
Espero que no seu novo lugar, as coisas sejam diferentes, tá? Espero que nem haja tv. Espero que você possa amar. E ser. Eu acredito, é o que me resta.
Afetuosamente,
Eu.
(A João Donati, brutalmente assassinado aos 18 anos, por sentir atração sexual e afetiva por homens.
A João Donati, que poderia ser - e, de certa forma, é - meu filho.)

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