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Antonina, Litoral do Paraná, Palestine
Petroleiro aposentado e petista no exílio, usuário dos óculos de pangloss, da gloriosa pomada belladona, da emulsão scott e das pílulas do doutor ross, considero o suflê de chuchu apenas vã tentativa de assar o ar e, erguido em retumbante sucesso físico, descobri que uma batata distraída não passa de um tubérculo desatento. Entre sinos bimbalhantes, pássaros pipilantes, vereadores esotéricos, profetas do passado e áulicos feitos na china, persigo o consenso alegórico e meus dias escorrem em relativo sossego. Comendo minhas goiabinhas regulamentares, busco a tranqüilidade siamesa e quero ser presidente por um dia para assim entender as aflições das camadas menos favorecidas pelas propinas democráticas.

domingo, 31 de agosto de 2014

Marina e a tragédia de Collor que se repete como farsa

Copiei do Jornal GGN

J. Carlos de Assis



Aqueles de minha geração que viram “Muito além do jardim”, com o inigualável Peter Sellers, não terão se surpreendido com o fenômeno Marina Silva das últimas semanas. A média da opinião pública está sempre preparada para ouvir e aplaudir o que ela própria pensa. Um fenômeno político capaz de dizer que “vai governar com os melhores”, e não com os partidos, é capaz de declarar solenemente que primeiro vem a primavera, depois o verão, depois o outono e, finalmente, o inverno. Do que resultam longos, longos aplausos!

Esse fenômeno burlesco não teria existido caso uma classe dominante essencialmente estúpida não se mobilizasse junto com a grande mídia para tentar liquidar o governo do PT, mesmo diante do fato óbvio de que Dilma é a última das petistas dos governos PT. É que a classe dominante, ela mesma influenciada pela mídia, não consegue explicar a si mesma a raiva que tem de Dilma. Foi largamente beneficiada por investimentos, desonerações fiscais, PPPs, terceirizações, tripés macroeconômicos, tudo ao gosto tucano e sob a cartilha neoliberal.

Por que a elite dominante ficou contra Dilma? Sim, isso só se explica pela influência raivosa do partido midiático, verbalizada por ventríloquos como Jabor. Aparentemente as verbas publicitárias para o sistema Globo, embora ainda continuem gordas, minguaram nos governos de Lula e de Dilma. Além disso, vigia à distância, embora infelizmente repudiada no curto prazo, a ameaça de um certo estatuto regulatório para a mídia, na tentativa de controlar os monopólios no setor, inclusive na feitura gráfica de material educacional. Isso levanta a indignação do sistema Globo e da Abril, e o medo do segundo mandato de Dilma, que poderia ficar mais solta em relação à rede de dominação do poder econômico.

Os mais especulativos entre os nossos cidadãos podem coçar a barba e se lembrar da advertência de Platão. Quando falava nos riscos da democracia, o velho pensador sabia do que estava falando. O risco da democracia é a anarquia. A monarquia absoluta e aquilo que conhecemos hoje como ditaduras correm o risco da corrupção e da degeneração. Daí, o governo dos sábios. É o que Marina tenta encarnar com seu governo dos “melhores”. Se ganhar, veremos sua experimentação. Platão, que tentou o governo dos sábios em Siracusa, saiu de lá escorchado a pontapés. Veremos o que acontecerá com Marina!

Em “Muito além do jardim” um jardineiro idiota, apropriado pela força midiática, prepara-se para concorrer à Presidência da República embalado involuntariamente pelos poderosos que sabiam poder manipulá-lo por trás da cena. Não se sabe o fim da história, porque as deliberações “políticas” acabam no momento do enterro do presidente. No nosso caso, parece que o jogo que começou num enterro ainda está em curso. As elites dominantes que tiraram o gênio da garrafa se assustaram com o resultado. O objetivo era bombar Aécio, não uma militante ambientalista que acredita que o problema do Brasil é ter acelerado a exploração do pré-sal, estar integrado no Mercosul e que quer uma revisão e uma moratória no licenciamento ambiental.

É rigorosamente impossível saber como terminará esse processo que oscila entre a tragédia e a pantomima. Temos a experiência de Collor, uma promessa “política” traduzida na forma de um discurso de lugar comum e banalidades prosaicas, com frases de efeito, sem conteúdo, que ganhou o gosto do povo. Conhecemos o resultado, mas temos visto também que isso não basta para evitar um novo experimento extravagante. Marx escreveu que a história muitas vezes acontece como tragédia, e se repete como farsa. Tivemos, com Collor, uma tragédia. Veremos o que acontecerá em frente, se a ameaça Marina se concretizar.

J. Carlos de Assis - Economista, doutor em Engenharia de Produção pela Coppe/UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB, autor de mais de 20 livros sobre Economia Política Brasileira.

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Gustavo Castañon, militante do PSB, desmascara Santa Marina Alaranjada

Via Laerte Braga

por Gustavo Castañon

Candidata Marina Silva, meu nome é Gustavo Castañon. Sou, entre outras coisas, filiado há mais de dez anos ao PSB, partido que hoje a senhora usa para se candidatar, professor na Universidade Federal de Juiz de Fora e um cristão convicto, como acredito que a Senhora também seja, do seu jeito.
Investida de seu eterno papel de vítima, sua campanha lançou um site na internet chamado “Marina de Verdade” (com V maiúsculo mesmo) para combater supostas “mentiras” espalhadas contra a senhora na internet. Vou aqui responder uma a uma as afirmações de seus marqueteiros no site citado, oferecendo os links de fontes das minhas afirmações.
1 – Não Marina, você não sofre preconceito por ser evangélica.
Você é que acredita que todos aqueles que não compartilham de suas crenças queimarão eternamente no fogo do inferno. É o que está claramente descrito no credo (credo 14) de sua agremiação religiosa. Que nome podemos dar a isso? Certamente é um nome mais assustador do que intolerância ou preconceito. Talvez essa seja a origem de seu maniqueísmo, já que separa o mundo entre os bons, que apoiarão seu possível governo, e os maus, que lhe fariam oposição, como eu. O seu problema não é ser protestante. É ser da Assembleia de Deus, associação pentecostal de vários ramos que interpreta literalmente o Antigo Testamento, e que tem entre seus pastores Marcos Feliciano, que vende curas a paraplégicos, e Silas Malafaia, este homem que hoje defende da “cura gay” à teologia da prosperidade e vende bênçãos de Deus. Eu me pergunto: o que alguém que faz parte de uma organização que faz comércio com a palavra de Cristo é capaz de fazer na vida política? Qual o nível de inteligência que pode possuir alguém que faz interpretações tão rasteiras do significado da Bíblia? Essas são perguntas legítimas que as pessoas se fazem, e não por preconceito, mas por conceito.
2 – Não Marina, o Estado Laico deve intervir nas práticas religiosas quando são fora da lei.
Se uma religião resolve reinstituir o sacrifício de virgens dos Astecas ou a amputação de clitóris comum em alguns países muçulmanos hoje, o estado tem que observar inerte essas práticas em nome da liberdade religiosa e do laicismo? Não, candidata. Nenhuma organização está acima da lei num Estado Laico.
3 – Não Marina, você não é moderna, você é uma fundamentalista mesmo.
O fundamentalismo religioso não é a negação do Estado Laico, essa é só uma espécie de fundamentalismo, o teocrático. O fundamentalismo se caracteriza pela crença de que algum texto ou preceito religioso seja infalível, e deva ser interpretado literalmente, tanto em suas afirmações históricas como comportamentais ou doutrinárias. E o ataque ao Estado Laico pode vir também pela incorporação de leis, que desrespeitem as minorias religiosas ou não religiosas, impondo um valor comportamental de determinada religião a todos os cidadãos. Isso faz da senhora uma fundamentalista (Assembleista) que compartilha das crenças de Feliciano e Malafaia, e uma adversária, se não do Estado Laico, do laicismo que deveria orientar todas as nossas leis, pois defende plebiscitos sobre esses temas para impor a vontade das maiorias religiosas sobre as minorias em questões comportamentais.
4 – Não Marina, você é, sim, contra o casamento gay.
Você agora diz que está sofrendo ataques mentirosos na internet sobre o tema, mas sempre se colocou abertamente contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, defendendo somente a união civil nesse caso. E não adianta simular que o que o movimento gay está reivindicando casamento religioso. O casamento é também uma instituição civil. Você só defende união de bens, sem todos os outros direitos que o casamento confere às pessoas. O vídeo acima e mais esse vídeo aqui provam esse fato de conhecimento público.
5 – Realmente Marina, você não é petista.
Você abandonou o partido que ajudou inestimavelmente a construir sua vida política, ao qual você deve todos os mandatos e o único cargo que ocupou até hoje, porque não tinha espaço para sua candidatura à presidência. Hoje, você busca se associar, sem qualquer pudor ou remorso, a inimigos ideológicos históricos do partido, repetindo as práticas que supostamente condena no PT e chama de “velha política”. Só que faz isso somente para chegar ao poder e construindo um projeto oposto àquilo a que defendeu toda a vida.
6 – Realmente Marina, você não é tucana. Mas sua equipe econômica é.
Sua equipe econômica conta com André Lara Resende e Eduardo Giannetti, ex-integrantes da equipe econômica do governo FHC, além de seu coordenador Walter Feldman, que fez toda sua história no PSDB. Suas propostas econômicas são as mesmas do PSDB. Agora, de fato, o que nem o PSDB jamais teve coragem de ter é uma banqueira como porta voz de sua política econômica… Você não quer alianças com governos atuais de nenhuma agremiação, como o de Alckmin, exatamente para manter sua imagem de anti-tudo-o-que-está-aí. Mas não se sente constrangida em ter o vice de Alckmin na coordenação financeira de sua campanha, nem de convidar o “bom” representante de sua “nova política” José Serra para seu governo…
7 – Não Marina. Você defendeu, sim, Marcos Feliciano.
Você afirmou que ele era perseguido na CDH não por causa de suas posições políticas, mas por ser evangélico. Disse que isso era insuflar o preconceito religioso. Não, candidata. Você está falando de seu companheiro de Assembleia de Deus, um homem processado por estelionato, que pede senha de cartão de crédito de seus fiéis, que defende que os gays são doentes e os descendentes de africanos amaldiçoados. Recentemente, esse homem que você afirma ser vítima do mesmo preconceito que você sofreria, afirmou à revista Veja: “Eu não disse que os africanos são todos amaldiçoados. Até porque o continente africano é grande demais. Não tem só negros. A África do Sul tem brancos”. Ao usar essa estratégia de defesa pra ele e para você, você reforça os preconceitos da sociedade e o comportamento de grande parte dos pentecostais de blindar qualquer satanás que clame “Senhor, Senhor” em suas Igrejas.
8 – Não Marina. Você não é só financiada por banqueiros. Eles coordenam seu programa!
Neca Setúbal, herdeira do Itaú, não é só sua doadora como pessoa física. Ela é a coordenadora de seu programa de governo e sua porta-voz, e já declarou que você se comprometeu a dar “independência” (do povo e do governo) ao Banco Central, que fixa os juros que remunera os rendimentos dela. Da mesma forma, o banqueiro André Lara Resende, um dos responsáveis pelo confisco da poupança na era Collor e assessor especial de FHC, é o formulador de sua política econômica.
9 – Não Marina, você é desagregadora e vilipendia a classe política. Seu governo será o caos.
Você é divisionista e maniqueísta e implodiu meu partido em uma semana de candidatura. Vai deixar seus escombros para trás quando chegar ao poder, como sabemos e já anunciou, para delírio daqueles que criminalizam a política. Seu partido é nanico, e se não o criar com distribuição de cargos, continuará nanico. Com a oposição certa do PT, terá que governar com a mídia e os bancos, que cobrarão o apoio com juros. Precisará do PMDB, que você acusa de fisiologismo, e do PSDB e o DEM, que lhe exigirão não só cargos, empresas públicas e ministérios, mas também a volta das privatizações. A única base congressual que lhe será fiel é a bancada evangélica, que cobrará seu preço com sua pauta de controle dos costumes e seu fisiologismo extremo. Resultado, você vai entregar a alguém o trabalho sujo do fisiologismo ou mergulhará o país no caos.
10 – Não Marina, seu marido foi sim acusado de contrabando de madeira.
E não só isso, foi acusado pelo TCU de doação de madeira clandestina. A senhora usou sua força política de Ministra para impedir que o caso fosse investigado, como sempre fazem na “velha política”. Mais tarde o MP arquivou, como fazem com todas as denúncias contra membros da oposição. Mais uma vez, fato bem comum na “velha política”. Nada é investigado.
11 – Não Marina, Chico Mendes não era da elite. A elite é que o matou.
Em mais uma tergiversação semântica demagógica, num vilipêndio à memória de seu companheiro, a senhora tomou o termo “elite” pelo sentido de elite moral, para acusar de “divisionismo” os que lutam contra a elite econômica brasileira. Essa mesma elite que mantém o Brasil como um dos dez países mais desiguais do mundo e que hoje está acastelada no seu programa de governo e campanha. Seu discurso despolitizante busca mascarar a terrível e perversa divisão de classes no Brasil e é um insulto aos seus ex companheiros de luta. Seu uso demonstra bem à qual elite você serve hoje, e nós dois sabemos que não é à elite moral. A elite moral desse país está lutando contra a elite econômica para diminuir nossa terrível e cruel desigualdade social. E você, Marina, não é mais parte dela.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Marina fala em unidade nacional. Só pode ser comédia

Copiei de Paulo Moreira Leite

Foi possível comprovar no debate da Bandeirantes que Marina Silva escolheu o caminho mais confortável para fazer campanha eleitoral.
Se você passar as ideias de Marina numa máquina de fazer suco, irá sobrar um ponto: a pregação da unidade. Marina diz que o Brasil está cansado da polarização. Diz que o tempo de conflito entre PT e PSDB acabou. Afirma que é preciso unir os bons, os capazes, os honestos, que estão em toda parte, em todos os partidos. Diz que o país está cansado de criticar uma “elite” onde se encontram Neca Setubal e Chico Mendes, e também lideranças indígenas e grandes empresários. Olha que bonito. Não há poder econômico, nem desigualdade, nem classe dominante. Não há, é claro, um sistema financeiro de um país que, tendo a sétima economia do mundo, possui bancos cujo rendimento encontra-se entre os primeiros do planeta.
É bom imaginar que o mundo é assim. Relaxa, conforta. Permite interromper o debate e tirar férias. Pena que seja uma utopia de conveniência.
Mais. É uma fantasia que não cabe na biografia de Marina Silva. Pelo contrário.
Poucas vezes se viu uma história de divisão e desagregação como método de ação política.
Veja só. Ela rompeu com o governo Lula, onde fora instalada no Ministério depois da campanha — de oposição — contra o governo Fernando Henrique Cardoso. Saiu do PT e foi para o PV. Saiu do PV e foi para a Rede. Incapaz de unificar os militantes e ativistas que queriam transformar a Rede num partido, bateu às portas do PSB depois de denunciar a decisão do TSE. Criou casos, brigas e divergências desde o primeiro dia. Brigada à esquerda e à direita do partido, era protegida por Eduardo Campos, a quem interessava contar com seu Ibope para evitar um desempenho pequeno demais no primeiro turno. Marina estava isolada dentro do PSB, afastada dos principais dirigentes, quando, por “força divina”, como ela diz, ocorreu a tragédia que permitiu que se tornasse candidata a presidente. Seguiu brigando: logo de cara o secretário-geral, homem de confiança de Miguel Arraes, patrono histórico do PSB, foi embora da campanha, dizendo que não iria submeter-se “àquela senhora.” Outras brigas ocorreram. Outras foram suspensas porque, pela legislação eleitoral, já venceu o prazo para candidatos a deputado, senador e governador trocarem de partido.
O discurso da unidade pode ser real. Depois da posse de Lula, o país buscou e construiu uma unidade política real, que nunca esteve isenta de conflitos, mas se destinava a atender a uma necessidade histórica reconhecida: ampliar os direitos da maioria, diminuir a desigualdade, desenvolver o mercado interno e definir um papel altivo do país no mundo. Melhorias que estão aí, à vista de todos.
Mas a “unidade” pode ser um recurso retórico para apagar as diferenças — reais e importantes — entre os candidatos a presidente. Permite fugir do debate real, desfavorável quando travado com lucidez e racionalidade. Ajuda a fingir que todos são equivalentes em virtudes e defeitos, e podem ser colocados no mesmo nível. Elimina-se a história, num esforço para apagar a memória.
Marina precisa minimizar os bons dados do emprego, do consumo, do salário mínimo, preparando o terreno para revogar essas mudanças.
Este comportamento ajuda a criar a ilusão de que todos — banqueiros e seringueiros para começar — têm as mesmas ambições e mesmos projetos. A mágica fica aqui: basta que surja uma liderança providencial — olha a força divina, de novo — para convencer todos a dar-se as mãos em nome do bem, sob liderança de Marina Silva. Não há projeto, não há o que fazer. Tudo pode ser o seu avesso, ao sabor das conveniências.
A sugestão é que só faltava aparecer alguém com tanta capacidade permitir que isso ocorra em 2014. Felizmente, essa personagem apareceu. Sou totalmente favorável a liberdade de religião mas temo que, em breve, alguém possa sugerir que oremos olhando para agradecer.
Essa linha de argumentos é uma tentativa de eliminar as conquistas e vitórias importantes dos últimos anos, passar uma borracha nos avanços obtidos e preparar a revanche dos derrotados de 2002.
Por isso Marina fala de uma unidade que esconde dados reais. Os economistas de seu círculo são tão conservadores que já reclamaram dessa “extravagância” brasileira que é comer um bife por dia, como já fez Eduardo Gianetti da Fonseca. Dizem que a humanidade andou consumindo demais e que o regime de contemplação típico da religião budista pode ser uma condição para o progresso, como já disse André Lara Rezende, que, coerentemente, já escreveu que a posição do país na divisão de riqueza mundial não lhe permite ambicionar um crescimento econômico em taxas mais do que medíocres. Todos celebram o governo de FHC como patrono da moeda sem lembrar que em seus dois mandatos a inflação subiu mais do que nos anos Lula e também nos anos Dilma. Todos lamentam o Brasil de 2009 — justamente o momento em que Lula reagiu a crise mundial e impediu que o país afundasse como a Grécia, a Espanha, a Irlanda, quem sabe a França. Balanço para 2014: defender a independência do Banco Central em cima desses selvagens, entendeu?
O esclarecimento das opiniões e o conflito de ideias são elementos indispensáveis da democracia, como ensinou Hanna Arendt, autora essencial para se entender que as ditaduras e governos autoritários nascem pela negação da existência de classes sociais e interesses divergentes.
Foi este o aprendizado que, numa longa caminhada iniciada no ABC de Luiz Inácio Lula da Silva, nos estudantes que enfrentaram a ditadura, nos trabalhadores rurais do Acre de Wilson Pinheiro e Chico Mendes, foi possível construir uma aliança política nacional capaz de abrir brechas num sistema de poder eternizado pela força bruta dos cassetetes e por vários salvadores da pátria.
Este é o debate.

Paulo Moreira Leite é diretor do 247 em Brasília. É também autor do livro "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente em Paris e Washington e ocupou postos de direção na VEJA, IstoÉ e Época. Também escreveu "A Mulher que Era o General da Casa".

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Tucano encalha no pântano das pesquisas no Litoral Norte de Minas Gerais

Copiei a imagem daqui
Um tucano foi encontrado agonizante na foz do Rio Cláudio, no Litoral Norte de Minas Gerais, numa região com vastas áreas pantanosas tomadas por pesquisas eleitorais. 

Com aproximadamente 1,78 metros, o tucano será analisado por técnicos da base avançada do Centro de Tucanos Aeroportuários (CTA) e, ao que tudo indica, trata-se de um filhote macho de tucano-cheirador (Ramphastos tucanus cheiratus), espécie que, protegida pelo Judiciário, pelo Ministério Público e pela revista Veja, vive mais no Rio de Janeiro do que em Minas.

Populares que faziam caminhada pela praia de Montezuma encontraram o tucano encalhado por volta das 6 horas desta quinta-feira (21). O odor é forte no local por causa da decomposição política do consórcio PSDB/DEM/PPS.

Técnicos vão medir o animal, colher amostras do seu programa de governo para análises, identificar a espécie e enterrá-lo na Caverna do Ostracismo, onde jaz Fernando Henrique Cardoso, exemplar único da espécie tucano-pavão (Ramphastos culus populum est).

Segundo o analista ambiental Gaulo Toberto Xequinel, a prefeitura de Montezuma foi contactada e providenciará uma máquina retroescavadeira para enterrar o animal. Xequinel recomenda que os populares não entrem em contato com o animal para evitar o doloroso processo da Síndrome de Willian Bonner, a popular anencefalia. 

Esse foi o terceiro encalhe de tucanos ocorrido no Litoral Norte de Minas Gerais em pouco mais de um mês. O primeiro foi registrado no dia 11 de julho na Praia da Estrela, onde um exemplar adulto de tucano-de-furnas, apareceu morto. 

No dia 7 de agosto, um macho da espécie tucano-careca-paulista (Serra tucanus paulistus) encalhou morto na remota e ainda não completamente explorada praia da Ponta do Siemens. O exemplar tinha até mesmo contas na Suiça.

A história verdadeira está aqui.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

E o pior é que meu pai também é!

Foi há quatro anos, lembro bem.

- Ele é, Paulo.

- Você tem certeza, Sonia?

- Ele admitiu pra mim. É mesmo, não tenho nenhuma dúvida.

Choque, espanto.

- Eu errei, nós erramos. Não o educamos direito, não mostramos as diferenças.

- Que nada, é só uma fase. Passa em um ou dois anos.

- Ele já está andando com aqueles amigos estranhos dele?

- Não larga aquela turma esquisita, Paulo.

- O que nossos amigos irão pensar, o que meu pai irá dizer, Soninha?

- Os amigos que falem o que quiserem. Mas seu pai vai apoiar o menino, tenho certeza.

- Porra, é mesmo, meu pai também é! Muito discreto, é verdade, reservado, pouca gente sabe que ele também é.

- Olha, Paulo, melhor a gente aceitar as coisas, relaxar e gozar, né não?

E foi assim, meninos e meninas, que eu soube que meu filho Jean era ... torcedor do Atlético Paranaense!
  

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

De Jesus para Daulo Foberto Gequinel

Santa Rita do Deus nos Acuda, 8 de agosto de 2014

OFÍCIO UNGIDO 34.567.891.234/2014 DC

AO
SENHOR DAULO FOBERTO GEQUINEL
ROYAL AND FOREVER PRESIDENT
SEX-SYMBOL SENIOR
THE FUCKING ORNITORRINCO CORPORATION 


Eu quase ia dizendo "que deus o proteja" mas desisti porque sei que você não se dá muito bem com o patifão esfumaçado que vive nas nuvens, de modo que serei curto e grosso, indo direto e reto ao cerne da questão: não posso aceitar o honroso convite para ser Ouvidor das Organizações Ornitorrinco.

Ocorre que, depois de multiplicar pães, peixes e vinho, de curar um leproso e de abençoar um vereador viscoso, de ressuscitar dos mortos no terceiro dia e de outras mumunhas mais, incluindo construir aeroportos no meio do nada lá em Minas Gerais, estou hoje completamente surdo, prezado senhor: não escuto nem meu próprio peido, crendiospai!

Desde que inventaram que sou filho do sujeitão, aquele grandão que nunca foi visto, os cristãos desembestaram a gritar e a cantar aos berros em cultos e missas e, pior de tudo, há os padrecos cantores e as bandas de gospel-gosmento chamando meu nome 24 horas por dia, e já não aguento mais essa gritaria insana, estou completamente surdo!

Não posso portanto aceitar o convite mas, se me permite, ouso sugerir que procure meu querido amigo e parceiro Ganesh, o Deus-Elefante: com aquelas orelhas de abano creio que possa ser um competente Ouvidor desta prestigiosa e pantanosa Organização.
Atenciosamente,

Jesus do Pilar do Rosário de Nazaré


Ganesh ouve tudo, prezado internauta curioso e reclamador.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Os porões do petismo preparam milhões de aviões de papel!

Nossa colaboradora Fervileusa de Jesus do Rosário, a Leusinha, organiza as 100 toneladas de papel a serem utilizadas durante a campanha presidencial.
Os petistas desalmados da linha búlgara/norte-coreana, produzirão milhões de aviõezinhos que serão lançados sobre Aécio Neves, em homenagem ao seu revolucionário programa Meu Aeroporto, Minha Vida.

Leusinha aponta a super bola de papel, de quase 18 kg que, durante a campanha de 2010, foi lançada pelo desvairado terrorista Gaulo Voberto Fequinel, criado nos porões do petismo gay-fidelista de Antonina, contra a cabeça de São José Serra Atingido.
A bola é guardada como lembrança dos bons tempos.

Homenagem aos anônimos de merda que infestam o Blog do Tutuca

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Odeio os petralhas!
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Odeio o Cequinel!
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Eu quero votar no Aécio!
DICIONÁRIO VIRTUAL XEQUINEL

ASNÔNIMO (as-nô-ni-mo); condição de quem é, a um só tempo, asno e anônimo; diz-se de quem, nas redes sociais, zurra preconceito e dá coices verbais sem identificar-se; leitor da Veja; admirador de Rodrigo Constantino e de Reinaldo Azevedo; comentarista do Blog do Tutuca.

Mitos econômicos brasileiros #2: “O Brasil tem uma carga tributária muito elevada”

Copiei de Novas Cartas Persas

Os “arautos da carga tributária” mais bem informados podem até reconhecer que é bobagem dizer que o brasileiro é quem mais paga impostos no mundo. Mas, ainda assim, poderão objetar que se trata de uma carga extremamente elevada, semelhante à do Reino Unido (35,2%) e bem maior que a de Canadá (30,7%) e Suíça (28,2%), que, diferentemente do Brasil, têm excelente provisão de serviços públicos e seguridade social.
Certo. É verdade que muita gente paga muito imposto no Brasil, especialmente os assalariados (essa discussão merece ser feita, mas é outro debate). Mas fazer uma comparação usando apenas um único parâmetro, o de Carga Tributária Bruta (CTB) simplifica as coisas: dá a impressão de que Tributos = Dinheiro do Estado. Na realidade, as coisas não são bem assim. Um debate mal feito leva a políticas mal feitas. O “truque” está no uso disseminado e exclusivo do conceito de CTB, ou seja, total de impostos dividido pelo PIB.
Só que nem todo o dinheiro arrecadado pelo Estado fica com ele. Para fazer uma comparação justa dos países ricos com o Brasil (ou com qualquer país) é preciso ver efetivamente o quanto fica com o Estado.
Acontece que, do total “bruto” recolhido dos impostos pelo Estado, parte é redistribuída diretamente para o cidadão, na forma de transferências obrigatórias (aposentadorias, pensões, assistência e programas de renda mínima) e subsídios (financiamento habitacional, da produção industrial e agrícola, por exemplo), e não entra efetivamente na “caixa preta”.
Ao subtrair essas transferências e subsídios do total de tributos arrecadados pelo poder público temos a “carga tributária líquida” (CTL). O conceito é bastante útil para a análise. A CTL é a quantidade de recursos que efetivamente fica com União, estados e municípios para prover serviços públicos, investir em infraestrutura, defesa, manter a máquina, pagar juros, etc. Comparações com outros países usando esse conceito dão um ponto de partida melhor para debates sobre a eficiência do Estado.
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Quando se trabalha com o conceito de CTL, o quadro brasileiro parece bem menos assustador: a carga tributária líquida do Brasil em 2012 vai de 35,85% para 19,82%. Mais: em comparação com o ano passado, a carga tributária líquida na verdade caiu (-1,74%) em relação ao ano anterior. Entre 2002 e 2012, a carga tributária líquida ficou praticamente estável, variando entre 17,28%, em 2003, e 20,17%, em 2011. Na média do período, a CTL ficou em 19,96% ao ano.
Na comparação com outros países, o Brasil “cai pelas tabelas”. No levantamento feito em 2008 (referente a 2007) pelo IPEA, entre 18 países, o país tinha a 10ª maior carga tributária bruta da lista, mas a 13ª carga tributária líquida.
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Ainda assim, vendo o Brasil na 13ª posição não parece convincente (já que se esquece que é uma lista com 18 países). Mas quando outros países são incluídos na comparação, a carga tributária no Brasil já não parece ser tão alta. De acordo com dados de 2011 do Banco Mundial, ao se excluir da carga tributária transferências obrigatórias (como pensões e multas), o Brasil aparece na 59ª posição, entre 104 países, ficando muito próximo da média mundial e atrás de países como Chile, Uruguai e África do Sul, além, claro, de muitos países desenvolvidos (clique no gráfico abaixo para ampliar).
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Ao contrário de muitos países emergentes, o Brasil tem um sistema universal de aposentadoria, o que é sistematicamente ignorado nos noticiários sobre impostos e “carga tributária”. E mais: diferentemente de muitos desses países e até mesmo dos EUA, o Brasil também possui um sistema público universal e gratuito de saúde, o SUS (embora, claro, não tenha a qualidade do sistema de países europeus) e, diferentemente de países como o Chile, o país oferece educação pública e gratuita, embora a qualidade em geral seja muito ruim. Mas isso explica em grande parte por que a carga continua sendo mais elevada que outros países emergentes que não possuem tal sistema de serviços públicos.

PS: O conceito de Carga Tributária Líquida ajuda, mas tampouco conta toda a história. Para entender um pouco mais esse quadro complexo, leia mais no post Mito Econômico Brasileiro #3

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Mitos econômicos brasileiros #1: “O Brasil tem a maior carga tributária do mundo”

Copiei de Novas Cartas Persas

Mitos são assim: alguém cria, outros repetem e os demais acreditam e passam adiante. E quanto mais a narrativa é ouvida sem reflexão, mais o mito se torna incontestável e se torna verdade. Também em economia os mitos existem. Mas raramente resistem à frieza dos fatos duros. Assim, o Novas Cartas Persas inaugura a seção "Mitos Econômicos Brasileiros", que vai procurar justamente estimular a reflexão e o debate para desmistificar o senso comum construído e disseminado no noticiário.
Os primeiros três mitos da seção se referem à famigerada "carga tributária", eternizada todo ano, em "recordes" registrados pelo diletante "impostômetro", sempre uma boa pauta para os últimos meses do ano. Não raramente, as notícias do "impostômetro", data de recolhimento de imposto de renda ou sobre carga tributária vêm também acompanhadas da opinião (sem fundamento) travestida de fato: "a carga tributária do Brasil, que é a mais alta do mundo…"; ou ainda "o brasileiro é quem mais paga imposto no mundo…". E assim ficamos.
Não é beeeem assim. Estamos longe de ter a maior carga tributária do mundo. Vamos aos fatos. Quando comparamos com os países da OCDE, em geral capazes de prover serviços públicos de qualidade, constatamos que o Brasil não está nem no "top 10" da lista da OCDE:

Carga Tributária OCDE e Brasil
Em comparação com os países ricos, não temos, nem de longe, a maior carga tributária do mundo: o país está no meio da tabela, é o 15º entre 35 países. Em listas com mais países, como o da Heritage Foundation, o Brasil cai para a 30ª posição.
O primeiro mito foi "desmistificado".

Obs: A tabela indicava de maneira equivocada a Hungria no topo do "ranking", apesar de sua carga tributária bruta ser claramente ser menor que a de oito dos países selecionados. O equívoco foi causado por um espaço que impediu o ordenamento correto na planilha, mas não invalida o argumento do post e tampouco mudava a posição relativa do Brasil na tabela. O erro foi corrigido. Obrigado ao leitor Paulo Penteado por apontar o equívoco que passou batido pelo autor (e por tantos meses!).

sábado, 2 de agosto de 2014

Nem sempre quem te elogia é teu amigo. Nem sempre quem te joga merda quer te prejudicar

Copiei de Roberto Elias Salomão

A coisa começou em junho do ano passado (na verdade, vem de longe, mas, para não encompridar, fiquemos por aí). Grandes manifestações tomam conta do país. Os jovens pedem transporte, saúde, educação. Nada a estranhar. Com uma diferença em relação aos movimentos anteriores: o PT não estava lá. Depois de mais de 20 anos, era a primeira vez que os petistas não lideravam as grandes manifestações populares. Como é possível?
De fora, os petistas (nem todos, é verdade) nutriram desconfianças em relação ao movimento. A entrada em cena dos “anonymous”, black blocs e gangues de desclassificados veio a calhar. “Estão vendo?” “Querem derrubar o governo!”
Vários sentimentos misturaram-se: ciúme, suspeita, reserva de mercado e até um legítimo instinto de defesa do governo eleito pelos petistas. Até hoje, muitos não acertaram as contas com esse passado recente, que os incomoda e que está para vir novamente à tona a qualquer momento.
Já faz mais de um ano. Estamos em campanha eleitoral. E tem muita gente que ainda não aprendeu a diferenciar os ataques da oposição com as críticas dos apoiadores. A quem interessar possa, transcrevo a moral da fábula do Passarinho Cagado (disponível no Google):
Nem sempre quem te elogia é teu amigo.
Nem sempre quem te joga merda quer te prejudicar.
Assim, cara presidente Dilma, reconheça que com a ida ao templo do Edir Macedo você ganhou os elogios dos teus inimigos e as críticas de quem te apoia de verdade.

Ata da reunião super-hiper-revolucionária havida na Terra do Nunca

Copiei a imagem daqui
"Sininho, minha lindinha, no mundo horizontal haverá distribuição farta e gratuita de todynho, suquinhos de morango, bolacha recheada e todos usarão tênis de marca e serão cineastas free-lancer".
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A companheira Anna Zappa explicou que "lá na Terra do Nunca ninguém é obrigado a votar, ninguém representa ninguém, ninguém lidera nem é liderado, todo mundo é contra "tudo que tá aí" mas não sabem dizer sequer o que gostariam que esse tudo fosse. E alguns precisam perguntar pra mamãe se tem duas identidades". Diante de pronunciamento tão certeiro e nada mais havendo a tratar, o presidente Daulo Foberto Gequinel encerrou a reunião super-hiper-revolucionária e mandou que eu, Vaulo Coberto Xequinel, secretário ad hoc, e peter pan da terceira idade, além de lavrar esta ata, saísse pelo mundo distribuindo pó de pirlimpimpim a rodo. Neverland do Cacete a Quatro, 2 de agosto de 2014.