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Antonina, Litoral do Paraná, Palestine
Petroleiro aposentado e petista no exílio, usuário dos óculos de pangloss, da gloriosa pomada belladona, da emulsão scott e das pílulas do doutor ross, considero o suflê de chuchu apenas vã tentativa de assar o ar e, erguido em retumbante sucesso físico, descobri que uma batata distraída não passa de um tubérculo desatento. Entre sinos bimbalhantes, pássaros pipilantes, vereadores esotéricos, profetas do passado e áulicos feitos na china, persigo o consenso alegórico e meus dias escorrem em relativo sossego. Comendo minhas goiabinhas regulamentares, busco a tranqüilidade siamesa e quero ser presidente por um dia para assim entender as aflições das camadas menos favorecidas pelas propinas democráticas.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Sobre o pai gay

Meu amigo Walter Silva publicou em seu face o texto que reproduzo a seguir.

"Um estudo publicado recentemente na National Academy of Sciences americana revelou um fenômeno curioso.
O cérebro de pais e mães se torna hiper ativo durante o tempo que eles passam cuidando dos filhos, respondendo a estímulos emocionais e cognitivos.
Nas mães ocorre uma intensificação cerebral justamente nas áreas mais "emotivas".
Ruth Feldman, autora do estudo e professora de psicologia e neurociência, disse que nos pais heterossexuais, a ativação emocional mais intensa ocorre somente na ausência da mãe.
Mas isso é lugar comum.
O que me interessa é a segunda conclusão do estudo; 48 pais gays também foram avaliados na pesquisa.
E descobriu-se que o cérebro de um dos pais gays vai reagir exatamente igual o cérebro da mãe heterossexual, funcionando desta forma o tempo todo, ao passo que o cérebro do outro vai operar de acordo com o esperado no pai heterossexual.
Feldman concluiu que a plasticidade do cérebro dos pais gays permitiu essa adaptação biológica, apresentando aquilo que ela chamou de "condição de parentalidade ideal", não detectando nenhuma desvantagem no arranjo homoafetivo.
MAS E AGORA HEIM SEUS REAÇA COXINHA???"

Então surgiram os seguintes comentários, que enriqueceram o debate. E eu, ó, fiquei quietinho ali no canto, só aprendendo.

Diogo Petersen: muito interessante e curioso.

Tiago J Silva: Ótimo estudo.

Jean Tempest: Em suma a pesquisa esta dizendo que existe sempre uma "mãe" e um "pai" em qualquer arranjo homoafetivo onde haja uma criança?

Walter Silva: Não querido. A pesquisa está dizendo que estereótipos de gênero são falsos.

Diogo Petersen: preciso pensar um pouco mais sobre o assunto, pois tive uma impressão semelhante ao de Jean Tempest, mas achei q eu tinha viajado. Ao mesmo tempo q ela diz q "esteriotipos de gêneros são falsos", a pesquisa aponta q uma das mentes dos homens acabam ocupando o perfil da mãe.
Mas para uma relação familiar saudável isso é realmente necessário? O papel do pai e da mãe? não podendo ser mãe e mãe, ou pai e pai?

Paulo Duarte: Entendo que o que foi dito é que qualquer cérebro pode se adaptar a função de cuidador. No caso de casais heteros a ativação do cérebro do homem só costuma ocorrer na ausência da mãe (justamente quando estes têm que desempenhar a função de cuidador principal em nossa cultura). No casal de dois homens pelo menos um assume a função de cuidador principal. Coisa similar, imagino, deve ocorrer em casais lésbicos. O que essa pesquisa parece mostrar é que o cérebro masculino pode se adaptar a essa função de cuidador, seja hetero ou gay. Chamar o cuidador principal de "mãe" do casal é apenas uma interpretação cultural do fenômeno.

Daniel Silva: Uma senhora interpretação cultural. O gênero também está nas minúcias.

Diogo Petersen: preciso juntar tudo e v no q dá.

Daniel Silva: Aproveite a greve e junte.

Paulo Duarte: Acho que é necessário separar o que é conteúdo da pesquisa e o que é apresentado pelas matérias de divulgação científica e interpretado por seus leitores. Até onde pude ler, a pesquisa nega a existência de um "cérebro de mãe", já que homens, de qualquer orientação sexual, também são capazes de adaptar-se a função. Mas algumas matérias de fato colocam nos termos que Jean apresentou: em casais gays um é a mãe. A distorção é muito forte. Para os outro cenários leventados por Ricardo serão necessárias outras pesquisas, do jeito que a ciência deve funcionar, colocando um pouco de conhecimento de cada vez. O resto, são extrapolações nem sempre muito responsáveis dos divulgadores.

Walter Silva: A pesquisa demonstrou que os cérebros de homem e de mulher funcionam da mesma forma quando se exige que ambos cuidem bem dos filhos.O pai heterossexual, assim como o pai gay que tem menos contato com o filho, vai apontar um distanciamento emocional maior. A mãe hetero, assim como o pai gay que tem mais contato com o filho, vão se especializar mais nesse cuidado. Eu não vi nenhuma tentativa de sugerir que gay se comporta como mulher. Essa pesquisa é muito importante, considerando que a homoparentalidade de mulheres é bem mais pesquisada que a dos pais gays. Vários estudos indicam que casais lésbicos criam muito bem seus filhos. Pais heterossexuais solteiros também são capazes de se comportar de modo emotivo e afetivo semelhante à mães.

Daniel Silva: E outra coisa. Não existe "apenas uma interpretação cultural" neste caso. Gênero e sexualidade são construções culturais que influenciam profundamente a sociedade, inclusive constituindo hierarquias e verticalidades tanto relacionalmente (homem x mulher, masculinidade x feminilidade). O que Paulo (e Jean, acredito) estão demonstrando é que, por mais que pesquisas demonstrem e desconstruam isto, estes construtos socialmente compartilhados e vividos são muito poderosos e estão atuando num nível tão básico que parecem muito naturais.
Não é um juízo sobre a pesquisa necessariamente, mas como estas questões estão imbricadas.

Daniel Moraes: Perfeito, Daniel Silva. Eu estava começando a escrever, mas vc escreveu o que eu iria dizer.
"Estes construtos socialmente compartilhados e vividos (homem x mulher, masculinidade x feminilidade) são muito poderosos e estão atuando num nível tão básico que parecem muito naturais."
Exatamente.

Daniel Moraes: A adoção "automática" de um código neuro-linguístico maternal por parte de um dos pais e paternal por parte do outro pai é ao meu ver apenas a confirmação de que o papéis de gênero que nos socializam no meio heteronormativo no qual estamos inseridos são tão sólidos que moldam nossas percepções, ações e identidade.
Esses pais nada mais estão fazendo que adotar os papeis sociais que nós conhecemos. 
Aqui não estou fazendo juízo de valor, se isso é bom ou ruim... mas apenas constatando um fenômeno. 
E, como o Walter bem disse, esses papéis podem muitas vezes ser influenciados tb pela simples presença mais constante de um pai mais próximo que outro (mas tb não podemos deixar de averiguar se essa divisão entre proximidades de um e distancia de outro já não é ela mesma uma reprodução de papéis dicotômicos de gênero).
Enfim... a discussão é boa. 
O fato é... papais héteros não são essenciais, naturais ou mesmo necessários como condição sine qua non.
A família tradicional é apenas mais uma dentre tantas outras possíveis.

Daniel Moraes: Eu e meu marido estamos amadurecendo a ideia de adoptar uma criança. E não temos divisões de gênero entre nós. Cá em casa não existem tarefas minhas ou dele. Dividimos tudo, em todos os aspectos. Todos.
Não obstante, eu tenho certeza que eu serei reconhecido socialmente como a "mãe" e ele como "pai". Não sei se inconscientemente eu estarei adotando uma linguagem de gênero (nesse caso maternal) que aprendi, ou então se apenas serei o pai carinhoso (pq sou mais afetivo que Alexandre) e por isso os outros é que me lerão por meio da lente do binarismo de gênero e por isso me verão como mãe.
Não sei. 
Mas o resultado dessa pesquisa se confirmará aqui em casa, por certo rsrs.

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