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Petroleiro aposentado e petista no exílio, usuário dos óculos de pangloss, da gloriosa pomada belladona, da emulsão scott e das pílulas do doutor ross, considero o suflê de chuchu apenas vã tentativa de assar o ar e, erguido em retumbante sucesso físico, descobri que uma batata distraída não passa de um tubérculo desatento. Entre sinos bimbalhantes, pássaros pipilantes, vereadores esotéricos, profetas do passado e áulicos feitos na china, persigo o consenso alegórico e meus dias escorrem em relativo sossego. Comendo minhas goiabinhas regulamentares, busco a tranqüilidade siamesa e quero ser presidente por um dia para assim entender as aflições das camadas menos favorecidas pelas propinas democráticas.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Nova Iorque, Edifício Dakota, 9 de dezembro de 1980: Mark Feliciano, lembram dele?

Copiei de Yahoo Notícias - José Guilherme
(O título acima é meu)


Mark Feliciano
Por José Guilherme

Quando um homem sobe ao palco e, diante de mil pessoas, faz a apologia de um assassinato notório... e o faz em nome de religião... não se iludam: o mundo já acabou.

O herói de Marco Feliciano chama-se Mark Chapman. Em 9 de dezembro de 1980, Chapman esperou por John Lennon, na frente de sua casa, em Nova Iorque. Às cinco da tarde, pediu-lhe um autógrafo na capa do LP "Double Fantasy". Postou-se depois num canto da entrada do prédio onde Lennon morava, o famoso edifício Dakota. Às 22h50, quando Lennon e sua mulher Yoko Ono voltaram, Chapman matou-o com cinco disparos pelas costas, quatro dos quais o acertaram. Foram quatro, não foram três, como quer Feliciano.

John Lennon foi o corpo e a alma da virada cultural dos anos 1960 e é compreensível que Feliciano o deteste. Afinal, a virada cultural à frente da qual estiveram Lennon, os Beatles e tantos outros foi uma revolução incompatível com os princípios comportamentais hoje defendidos por alguns fanáticos alegadamente cristãos. Nesse ponto, não adianta fingir espanto. O fanatismo religioso não varia na sua estrutura: sempre almeja a morte do diverso, de tudo o que é divergente de si.

Gente como Feliciano, de resto, não parece gostar muito de música, exceto a música "funcional", que serve aos propósitos específicos de sua doutrina. Isso também ajuda a entender seu desprezo por Lennon e a facilidade com a qual transpira em êxtase, na gravação, para glorificar o assassinato do ex-beatle. Para Mark Feliciano, a morte trágica de Lennon não é um efeito de nossa loucura pop, individual e coletiva. É uma prova concreta da existência de seu deus castigador e justiceiro. Um deus Thor, furioso cuspidor de raios.

Para Feliciano, Chapman foi um instrumento da justiça divina na Terra. Um anjo, portanto. Mas John Lennon, com a verve que marcou sua carreira, "comentou" o episódio antes mesmo que acontecesse. E deu uma resposta antecipada ao grotesco teatral que esse video nos trouxe. Perguntado por um jornalista sobre como esperava morrer, ainda nos anos 60, Lennon respondeu jocosamente: "Serei provavelmente pipocado por um lunático" ["I'll probably be popped off by some loony"]. Só não previu que um "pastor de almas" faria o elogio catártico do homicídio, 30 anos depois, no palanque de uma igreja suburbana latino-americana.

Caetano Veloso deveria fazer uma canção sobre isso.

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