SOBRE O BLOGUEIRO

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Antonina, Litoral do Paraná, Palestine
Petroleiro aposentado e petista no exílio, usuário dos óculos de pangloss, da gloriosa pomada belladona, da emulsão scott e das pílulas do doutor ross, considero o suflê de chuchu apenas vã tentativa de assar o ar e, erguido em retumbante sucesso físico, descobri que uma batata distraída não passa de um tubérculo desatento. Entre sinos bimbalhantes, pássaros pipilantes, vereadores esotéricos, profetas do passado e áulicos feitos na china, persigo o consenso alegórico e meus dias escorrem em relativo sossego. Comendo minhas goiabinhas regulamentares, busco a tranqüilidade siamesa e quero ser presidente por um dia para assim entender as aflições das camadas menos favorecidas pelas propinas democráticas.

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Quino, simplesmente genial

Copiei de Rogério Rauber

Depois de mortinho da silva, estarei apenas mortinho da silva

Copiei a imagem do Bar do Ateu


Borrem-se de medo, cagões em cristo.

Eu, se me permitem, cago e ando para este patifão esfumaçado que vive nas nuvens porque, depois de mortinho da silva, estarei apenas mortinho da silva. Ou de oliveira.
(Beato Rosnento, Carta aos Cagões, 45-9)

domingo, 30 de dezembro de 2012

Desmistificando ideias equivocadas sobre os índios brasileiros

Copiei imagem e texto de Resiliência

 

As 5 ideias mais equivocadas sobre os índios no Brasil desmistificadas pelo professor e historiador José Ribamar Bessa Freire:

1. O índio não é “genérico”
Cada tribo tem seus costumes, crenças e culturas. São 200 etnias que falam 188 línguas diferentes.

2. As culturas indígenas não são atrasadas
Os povos indígenas produzem saberes, ciências, arte refinada, literatura, poesia, música e religião.

3. As culturas indígenas não são congeladas
Pensar que todo índio deveria andar nu ou de tanga é um equívoco tão grande que quando vemos o contrário tem gente acha estranho.

4. Os índios não fazem parte apenas do passado
Como mostramos aqui, eles estão aí defendendo sua cultura. Também é errado pensar que a cultura deles é contrária à evolução e a tudo que é moderno.

5. O brasileiro é índio sim!
Muitos tem a ideia de que o povo brasileiro foi só formado por nações européias e africanas. Na verdade, a origem vem de todos, mas o brasileiro tende a se identificar com a origem européia que foi a principal colonizadora.

Quer ler o estudo na íntegra? Então clique aqui: http://bit.ly/EquivocosIndigenas

Por um Brasil consciente, inteligente e solidário

originalmente publicado em Projeto Gota D'Água, com Susana Martin Gallardo e Andréa Brito.

Confraternização natalina das Organizações Ornitorrinco

Copiei a imagem de Atomic Samba

 

A família do Contador-Chefe das Organizações Ornitorrinco, George W. Vequinel Bush, recebendo regalos durante nossa confraternização natalina, em data prenhe de louvores ao Grande Patifão Esfumaçado que vive nas nuvens, e bate o sino pequenino.

George W., além de maquiar contabilizar nossas remessas, para paraísos fiscais, do dinheiro sujo que recebemos dos cofres abarrotados do petismo búlgaro, é um exímio e bondoso atirador que, nos finais de semana, seguindo as pias orientações do papa Bento 16 e dos pastores Silas Malafaia, Marco Feliciano, João Campos e demais membros da frente parlamentar do ódio evangélica, elimina alguns exemplares de indesejáveis como LGBTTs, comunistas, petistas, ateus, feministas e gentes outras que não seu conhecem seu lugar e ameaçam a paz mundial.

Hoje é um novo tempo, o futuro já começou, hoje a festa é sua, a festa é nossa, é de quem vier, menos para as exceções acima citadas.    

Demora um pouco, mas vai amanhecer: o lento fim das igrejas cristãs

O Serviço de Alto Falantes Ornitorrinco, ao tempo em que  cumprimenta os fanáticos presentes nesta grandiosa e apatifada quermesse em louvor de São Bento Nazistão 16, divide este texto certeiro do meu amigo Walter Silva com os praticamente 9 leitores diários destes espaço ateu, insalubre, abortivo, LGBTT, esquerdista e, é claro, orgulhosamente coxa branca, cujo estádio fica, NÃO POR ACASO, no Alto da Glória.

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Copiei de Walter Silva

A igreja cristã está destruindo a si mesma e não é de hoje.
Em 1945 quando os americanos lançaram uma bomba de plutônio sobre Nagasaki, eles aniquilaram em poucos segundos com uma comunidade cristã que sobreviveu duzentos anos a perseguições governamentais no Japão. A catedral de Santa Maria foi reduzida a cinzas, e dizem que o alvo escolhido para guiar a mira do genocídio de civis desprotegidos tinha sido ela.
O detalhe irônico: a operação de guerra e terror foi abençoada oficialmente por capelães católicos e Luteranos.
Processo semelhante ocorre no Oriente médio; graças aos esforços bélicos dos americanos conservadores na era Bush guiados por evidente e inspirado fanatismo religioso em resposta ao 11 de Setembro, as antigas comunidades cristãs estão desaparecendo do Oriente médio, dizimadas por islâmicos fundamentalistas, insuflados pelo ódio de pastores evangélicos nos EUA e outros locais do Ocidente.
Quando o sumo pontífice da Igreja abençoa a odiosa e assassina Rebecca Kadaga, um gesto tão significativo quanto alguém abraçar Adolf Hitler, está na realidade apunhalando as doutrinas cristãs e crucificando novamente o fundador da seita, o judeu nazareno, condenando toda a comunidade cristã.
Não por acaso milhares de católicos Holandeses anunciaram sua intenção de abandonar a igreja.
A má fama das escolas protestantes, igualmente, emporcalhadas pelo neo pentecostalismo fanático, alcança o céu dos trinta e seis deuses, e dão a volta ao mundo, para usar um antigo ditado hindu.
Eu vejo os sinais da decadência da igreja cristã e acho mesmo que está completamente condenada.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Ricardo Lewandowski: ainda há um Juiz em Brasília

Copiei a imagem de PT Guarapuava

Quem sempre nada a favor da correnteza chega com facilidade a algum destino, pois basta largar-se e ir-se sem controle próprio. No mais das vezes, entretanto, raramente se chega ao lugar que gostaríamos, nos deparamos com ermos e pântanos sombrios que não escolhemos.

Nadar contra a correnteza não é fácil. A gente avança cinco e recua três metros, mas, de tanto nadar contra, aprendemos as manhas das correntes, e vamos poupando o fôlego e descobrimos atalhos, de modo que chegamos, quase sempre, precisamente onde queríamos chegar.

Ricardo Lewandowski tem coragem e nada contra a maré do conformismo, do senso comum da mediocridade e, sobretudo, foi capaz de afrontar as turbas midiáticas que queriam linchamento e não justiça.

Pastor Adélio: Histórias Bíblicas

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Diálogos bíblicos



Conversa capturada por um camelo alado e falante, num daqueles desertos bíblicos: 

- Esteve com outro homem, Maria? Você será apedrejada até a morte!

- Não é o que você está pensando, José Cornuto! Era um apenas um lindo ricardão alado, meu amor!

- Bem, neste caso, não tem problema.

(José sai coçando a testa, desconfiado pra caralho)

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Exclusivo: como gozam os crentes

Copiei do Genizah


Orgasmos de crente

Do conservador
Assim, assim, assim, fica só assim, assim não! Assim, não feche o manual, isso, assim! Assssiiiiimm! Assssiiiimmmm!

Do neo-pentecostal
Ai... Vou tomar posse, vou tomar posse... Toma... Tomaaaa... – Então desamarra! Desamarraaaa! Repreendemos agora toda manifestação precoce! Eu declaro, esse gozo é meeeeu! Oh Vitóóóriaaaa!

Do carismático
Oh amor... Receba o dom... Levante suas mãos... Levante seus pés... Repita comigo: Eu tenho poder! Eu tenho poder... Clame! Clame! Liberte sua língua... O dom está vindo... Está vindoooo... Diga ao parceiro ao lado: eu te abençou-ooooo!

Do pentecostal histórico
Oh... Alê... Alê... Meu amor, Alê, alabachúrias, ondebachúrias, aquibachúrias, quantabachúrias, oh língua... Manifesta-se como prova do meu amor... Oh lábios... Ohhh, Alê... Aleluiaaaaaa... 

Do adventista
Vem... Vem... Vem... VEM... VEEM ... VEEEEMM!

Do metodista
Aiiiii... Ééééhhhh... Iiiiihhhh! Ohhhhh... UUUiiiii.... Ahhhmém! 

Do presbiteriano
Oh...intróito... Oh santo goooozo eu te invoco! Vamos gemer alternadamente amor! Oh, podemos nos assentar... (silencio) ... Fala, não pare, fala alguma coisa... Fala alguma coisa... Agora! Vou impetrar a benção, eu vou, eu vou, amémmm! Amémmm! Amémmm. (- Boa noite irmã... Foi uma benção pra você? - Foi sim... e pro irmão?) 

Do presbiteriano independente
Oh...intróito...oh santo goooozo eu te invoco! Vamos gemer alternadamente amor! Oh, podemos nos assentar... (silencio)... Fala não pare, fala alguma coisa... Fala alguma coisa... Agora! Oh amor, levemos esse gozo também aos pobreeeees...Vou impetrar a benção, eu vou, eu vooou, amémmm! Amémmm! Amééémmm. (- Boa noite irmã... Foi uma benção pra você? - Foi sim irmão... Quer um cigarro?)

Do universal do reino
Deposita... Depositaaa! Vai depositaaaa! Unzinho só, depositaaaaa, agora, vai, vai amor, prova tua fééé, isso, deposita... Oh gozo-filácio... DEpositaaaaa....

Do renascer
Oh... Me ame, me ame... Estou quase em Miame... Invista em mim, que eu invisto em você... Me ame meu amor, Miami... Eu também vou chegar, eu vou... Me ame! Estou quase em Miameeeeeee...

Do batista
Oh... Sou feliz! - Sou feliz! - Ah amor, se paz da mais doce me deres gozaaar... – Oh amor, vou mergulhar de cabeçaaaaa... – Oh, já ouço o coral... Vamos em uníssono ser feliiiiiizzzzzzz! 

Do gospel
Oh... Me dá um lá maior... Isso... Fica aí, lá... Lá... Láááá... Isso... Oh amor... Libere as vocalizações... Tenha liberdade de posições... Oh lá maior... Lá, lá, lááááá... 

Do bíblico
Oh meu amor... Do grego, “eros”! Oh introdução, conteúdo e conclusão! Oh exegese impossível do termo “orgasmo”, do grego antigo “orgasmos”... Derivado de “orgaw”, “órgão”... Oh Órgão! O que é o estudo histórico-gramatical diante de ti?! Oh tradição oral... Ai amor... Oh gaudiis exultare! Oh líquido seminal, não de “seminário”, mas dos testículos dessa perícope! Oh não para... Não para... Não parábolaaaaaa.... 

Do fundamentalista
Isto sim é um orgasmo! Isto que é um orgaaasmo absolutooo, não outra coisaaaa! É isto! Só istooo! oh MEEEU Deus! (interrompeu por estar perdendo o controle)

Wilson Toniolli no Verticontes

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Álvaro Dias: enganador, péssimo gestor, fraude política, um rola-bosta vistoso, esticadinho e hipócrita

Desde não sei quando sempre considerei Álvaro Dias um enganador, um péssimo gestor, uma fraude política, um rola-bosta vistoso, esticadinho e hipócrita, e me perguntava como é que ele nunca fora pego. 
Pois o jaguara foi pego, finalmente, escondendo patrimônio da Justiça Eleitoral.
É a este canalha que o PIG oferece câmeras e microfones para atacar os sucessivos governos do PT que, mesmo com suas limitações e erros monumentais - que não são poucos - concretizaram algumas mudanças importantes neste país.
E tem gente do PSOL que adora aparecer em fotografias nas primeiras páginas do PIG ao lado deste bosta, não é mesmo, senador Randolphe?
Aliás, Randolphe andava com umas vassouras ao lado do Demóstenes Torres, vocês lembram disso?

Troféu Millenium 2012: homenagem a nossa querida Maria Gasolina


O Serviço de Alto Falantes Ornitorrinco, ao cumprimentar os almeidinhas antoninenses presentes nesta grandiosa quermesse em louvor da Virgencita Golpista y Botinuda, aproveita o ensejo para homenagear nossa querida "Maria Gasolina" fazendo-lhe entrega do Troféu Millenium 2012, por seus relevantes serviços prestados.

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Luiz Carlos Azenha
Estou sob pressão para deixar o laptop. Tudo bem. Mas, antes, reproduzo diálogo com um conviva bauruense: 
Eu: Sempre tem gente com medo do voto popular. Os golpes mudam. Na Venezuela foi um golpe midiático...
Ele: No de 1964, tivemos o IBAD, Instituto Brasileiro de Ação Democrática. 
Eu: Agora, temos o Millenium.
Ele: Millenium? Isso parece nome de puteiro. Prefiro "Casa da Eny".

Lunáticos por deus: a insanidade das religiões

Copiei de Paulopes
Autor mostra em 'Lunáticos por Deus' a insanidade das religiões


O filosofo americano Michael Largo (na foto abaixo), 61, testemunhou sacrifício de animais, ouviu tambores vodus no Haiti, ingeriu cogumelos tóxicos, frequentou comunidades de nudistas que acreditam que só quem vive como Adão e Eva antes da expulsão do Éder obterá a salvação divina e por aí vai. 
Após tal vivência ao longo de mais 20 anos pesquisando religiões, ele concluiu que as religiões semeiam a insanidade “[porque] os mais loucos conceitos se tornam dogmas, demandando fé para aceitá-los”.

No livro “Lunáticos por Deus” (Lafonte, 416 págs), lançado recentemente no Brasil, Largo, que foi educado por jesuítas, apresenta um inventário de suas viagens a vários países para estudar as religiões e faz algumas confirmações, como a de que o sistema de crenças é gerador e catalisador de fanatismo e bizarrice. 

Segue a entrevista que o caçador de religiões concedeu a Érica Kokay, da revista Galileu.


Largo estuda religiões há 25 anos

Por que a humanidade concebeu a religião?
A morte é uma das principais razões para a humanidade ter inventado a religião. As vidas dos nossos primeiros ancestrais foram atormentadas pelas incríveis incertezas. A morte foi a mais atormentadora. Naquela época, a expectativa de vida era de apenas 18 anos de idade, então a mortalidade era uma experiência cotidiana. Eu imagino um bando de humanos primitivos de pé ao lado do corpo de um familiar morto, se perguntando: “Para onde foi aquela coisa que dava vida e animação ao meu companheiro?”. Quando não havia mais respostas para a vida e para a sobrevivência, os humanos precisaram inventar explicações, que invariavelmente se tornaram catalisadoras para a teologia e a religião.

Quais foram os primeiros vestígios de religiosidade na história humana?

Os Neandertais provavelmente ensinaram aos humanos como praticar rituais religiosos e como buscar respostas ao inexplicável. Eles colocavam, por exemplo, crânio de urso e adereços ritualísticos em volta dos cadáveres. Os primeiros túmulos humanos, datados de 100 mil anos atrás, foram descobertos em uma caverna perto de Nazaré, em Israel. Os restos mortais tinham sido sepultados ritualisticamente, com os ossos pintados de vermelho, conchas marinhas dispostas ao redor e crânios apontando o Norte. Isso indica que nossos mais remotos ancestrais tinham uma crença, pelo menos, na vida após a morte.

Como começou essa sua vontade de conhecer diferentes religiões? O que você buscava?

Existem muitas religiões que vêm e vão e algumas milhares que são praticadas até hoje. Eu queria ver se havia uma verdade ou algum tipo de consistência entre a variedade de sistemas de crença. Para meus outros livros, eu pesquisei sobre a morte por muitos anos. Eu admito que, em alguns momentos, enquanto eu compilava estatísticas e contava as infinitas colunas de vidas humanas que vinham e iam – geralmente não deixando nenhuma marca de sua existência além de um mero dígito no cálculo –, eu me perguntava: “Qual é o propósito de tudo isso?”. 

E você encontrou essa verdade?

Eu descobri que as religiões baseiam todos os seus fundamentos em ideias e conceitos que não podem ser provados e, por isso, nada pode ser oferecido como a verdade. Os mais loucos conceitos se tornaram dogmas, demandando fé para aceitá-los. Olhando pelo lado negativo, há uma tendência entre as religiões de promover o comportamento delirante e irracional. Na verdade, crenças religiosas têm causado mortes em massa, seja por guerras ou por dogmas e doutrinas. Mas olhando positivamente, de acordo com teólogos, as religiões têm confortado muitas pessoas e salvado bilhões de almas. 

Você passou 25 anos de sua vida conhecendo religiões. Como se deu essa jornada, na prática?

Eu fui educado por jesuítas, mas minha experiência de campo começou como um coroinha católico que falava Latim. Pratiquei uma série de doutrinas orientais, do Zen à Meditação Transcendental. Nos anos 1970, presenciei uma cerimônia rastafariana na Jamaica. Também assisti a palestras da Nova Era, inclusive sobre teorias de anjos viajantes no tempo e a respeito do valor esotérico dos cristais. Comi cogumelos com algumas mulheres adeptas das religiões Druidas e Gaia, em Nova Iork. Cerimônias de anglicanos, metodistas, calvinistas – já assisti muitas. Dei a palma da minha mão para que a lessem, participei de uma sessão de regressão a vidas passadas, fui a retiros espirituais cristãos e orientais em fins de semana. Sem contar com os templos sagrados em Roma que visitei e o culto de santeria em Miami que participei. Reconhecidamente, e em nome da ciência, eu tomei alucinógenos, tentando infrutiferamente tomar notas sobre os diversos conhecimentos religiosos. 

E em que países isso aconteceu?

Como existe mais de 300 mil locais de culto nos Estados Unidos, o meu país tem sido um terreno furtivo para a pesquisa. Mas eu gosto particularmente do Caribe. Estive também no México, na França, na Inglaterra, apesar de que a Itália, para mim, é o local mais cheio de santuários intrigantes. 

Qual foi a situação mais exótica e bizarra por que você já passou?

Testemunhar sacrifício de animais foi tão bizarro quanto revoltante. Mas eu diria que um breve caso amoroso com uma freira dominicana, que eu conheci durante entrevistas na República Dominicana, foi a mais exótica – poderia chamar também de experiência erótica religiosa. 

Qual sua dica aos curiosos religiosos?

Eu recomendo que eles confiram os detalhes de cada religião, antes de comprar a ideia. Façam isso lendo os dogmas de cada crença, da mesma forma que você leria o relatório de um produto. Muitas pessoas fazem uma pesquisa mais minuciosa sobre o celular novo que vão comprar do que sobre a religião que eles herdaram da família ou a que aderiram no decorrer da vida. Os cultos, que são definidos como grupos religiosos que demandam lealdade a um líder, são os mais arriscados. Muitos são especialistas em explorar o carisma, que pode facilmente cegar alguém da realidade e torná-lo um fanático. 

Se você pudesse escolher apenas uma história de toda a sua jornada para contar, qual seria?

Depois de todas as igrejas que visitei e as entrevistas com pessoas religiosas que fiz, o momento mais comovente de como a religião funciona ocorreu no leito de morte da minha mãe. Ela sentia um grande desconforto e visualmente sofria de ansiedade e medo. Eu segurei sua mão e disse a ela uma mentira: que logo ela encontraria meu pai, pois ele estava esperando por sua noiva. Ela abriu os olhos só mais uma vez e sorriu, antes de falecer.

Como foi o processo de escrita do livro?

Eu já tinha muitos anos de anotações das minhas pesquisas de campo, mas passei um ano comprometido com a rotina devota. Trabalhei sobre textos antigos, li doutrinas e dogmas das religiões, fiquei atento ao que alguns monges chamam de lectio divina, ou leitura divina. Eu tentei não abordar nenhuma ideologia religiosa com condenações pré-condicionadas ou preconceitos. 

Mas você consultou muitas fontes, além das experiências práticas?

Eu precisei ler o Velho e o Novo Testamento inteiros, além do Corão, é claro. No livro, eu listo uma centena de textos religiosos que usei como fonte. 

O uso de chás, cogumelos e substâncias psicotrópicas faz parte de muitas crenças. Por que essas religiões aderiram a essas substâncias?

O escritor Aldous Huxley, durante seu experimento com substâncias psicotrópicas, notou que elas abriam as chamadas portas de percepção. Muitas religiões dão grande valor aos sonhos, como se fosse uma maneira de conhecer a voz de Deus. Mesmo no Império Romano, praticava-se o que se chamava de mistérios de Elêusis, que recomendava ingerir cogumelos pelo menos uma vez ao ano, a fim de ver e experimentar o que apenas Deus sabia. No entanto, tal atividade pode ser prejudicial à saúde. 

Por que a religiosidade, em algumas pessoas, se torna insanidade?

Além do medo da morte, existe o medo da condenação eterna. Religiões que dão muito valor à vida após a morte e ameaçam quem não segue suas regras com a perspectiva de punição eterna geralmente levam seus fiéis ao fanatismo. Substâncias alucinógenas, rituais de jejum, automortificação e outros meios bizarros que as pessoas utilizam para atingir o êxtase religioso também costumam alterar a química do corpo, levando a um desequilíbrio mental. 

No livro, você falou sobre “nudismo religioso”. Como funciona essa crença? Ela ainda existe hoje em dia em algum lugar do mundo?



Ela decorre de uma interpretação do Livro de Gênesis. O pecado foi o que levou à prática de vestir roupas e ao matrimônio. Adão e Eva, quando possuíam a inocência pura, não precisavam nem de vestimenta nem de casamento. A nudez, segundo a religião, é uma prova de que eles atingiram o estado de graça e estão libertos de todas as restrições morais concebidas pela humanidade. Hoje, existe a Igreja Batista do Calvário Nudista, no Texas. 

Por que a ideia de apocalipse está tão incrustada nas diversas religiões? Por que os religiosos se apegam a ele?

Na minha pesquisa, eu descobri que mais de 80% dos cultos usam revelações de Agamemnon para arrebanhar seguidores. Novamente, o medo é a ferramenta que controla seguidores, especialmente quando envoltos na conversa de ter visões divinas. 

Você acha que a religiosidade está ganhando cada vez mais força entre os humanos? Ou você acha que a humanidade caminha para a não religião?

Na estatística, menos pessoas estão indo à igreja, enquanto muitos continuam querendo aderir a uma ou outra religião. O ateísmo está em ascensão em todo o mundo, e saindo do armário. Como a tecnologia e a informação estão cada vez mais disponíveis, novos deuses estão sendo concebidos. O terrorismo mundial também ajudou a abrir muitos olhos, para ver em primeira mão o que fanáticos religiosos podem fazer. Eventos atuais indicam que nosso próprio fim dos dias, ou pelo menos uma transformação significante de nossa cultura, possa ser instigado por alguma forma de insanidade religiosa. 

Você conheceu e pesquisou diversas religiões. Mas no que você acredita de verdade?

Eu acredito nas possibilidades do inimaginável. Como Stephen Hawking já notou, nós vemos o mundo a partir de uma perspectiva distorcida. Ele usa a analogia de um peixe em uma tigela redonda, observando todas as coisas se movendo em uma curva, devido à refração da luz através da água. Essa é a verdade para o peixinho. Seria necessária certa arrogância para pensar que nós realmente sabemos alguma coisa, não importa quantos livros nós tenhamos lido ou a graduação que possuímos. 

Em sua opinião, para onde vamos quando morremos?

Talvez, nossos átomos são colocados em um liquidificador cósmico, e nós vivemos como parte de qualquer outra coisa. Eu não tenho a mínima ideia. Quem tem? Certamente será uma viagem inacreditável, mas uma viagem que eu prefiro evitar pelo tempo mais longo possível. [Risos]. 

O que você ainda não descobriu que quer descobrir?

Se existe um Deus. Acho que, se ele (ou ela) existisse, deveria ser capaz de vir até aqui e arrumar todas essas muitas ideias religiosas de uma vez por todas. Ou mandar um texto para o mundo inteiro, ou algo do tipo. Mas até nisso muitos não acreditam. 

Sua próxima pesquisa será sobre o quê?

Estou terminando um texto sobre bestas e criaturas, reais e imaginárias, descrevendo como eles viveram e morreram.

Dawkins diz que seu sonho é destruir as religiões.
agosto de 2009

Jesus supera Deus em crueldade

Copiei de Paulopes
(Texto publicado em 23/12/2011)

Hitchens afirma que Jesus supera Deus em crueldade

O Novo Testamento, o do Deus pai de Jesus, costuma ser citado por cristãos conscienciosos como uma espécie de upgrade, com menos bugs, do Velho Testamento, onde está o Deus mesquinho, cruel e insano. Para Christopher Hitchens (foto abaixo), contudo, o Novo Testamento é mais terrível que o Velho. 
No Velho Testamento, argumenta Hitchens, há o mandado divino para o extermino de povos, o que hoje é chamado de limpeza étnica. A morte, nesse caso, é o castigo derradeiro de Deus a povos como os midianistas e amalecitas. No Novo Testamento, contudo, o castigo aos ímpios não se finda com a morte e prossegue no inferno por toda a eternidade.
Para Hitchens, essa ideia, a mais cruel de todas já feitas, nasceu com Jesus.
"Ele [Jesus] disse pela primeira vez: “Se você não concorda com o que ofereço, saia daqui e vá para o fogo eterno", disse Hitchens em novembro de 2007 em uma entrevista a Elizateh Carvalho para o programa Milênio, da Globo News. Foi quanto o britânico radicado nos Estados Unidos esteve no Brasil para o lançamento do seu livro “Deus não é grande – como a religião envenena tudo” (Ediouro, 304 págs.). 
Nesta entrevista, há um pouco da perspicácia e contundência da critica às religiões do ateu mais brilhante e polêmico da contemporaneidade que morreu aos 62 anos no dia 15 deste mês vítima de um câncer no esôfago. 
Christopher Hitchens esteve no Brasil em 2007

Íntegra da entrevista 

Christopher, vamos acompanhar um pouco a cronologia do seu livro e voltar a Dartwood na Inglaterra, onde você era um menino de 9 anos e tinha aulas de religião com a sra. Jean Watts. Ela parece ter sido a primeira pessoa a ajudá-lo sem querer a duvidar da existência de Deus. Acho que todos passam por uma experiência parecida como essa em algum momento da vida. Mas a verdade é que, independentemente do quão seja dogmática e irracional a religião, bilhões de pessoas ainda preferem abraçar a fé. Como você explica essa necessidade incontrolável por Deus? 
Eu só posso dizer que Ele é muito real, muito necessário para milhões de pessoas. Também temos de admitir que, para muitos de nós, talvez 10%, 15%, essa necessidade não existe. Mas a senhora Watts não disse nada que eu já não soubesse. Não foi como uma revelação no caminho para Damasco. “Eu acreditava em algo, mas agora não acredito mais.” Ou: “Eu acreditava naquilo e agora acredito nisso.” Foi apenas a maneira como descobri que não podia acreditar no sobrenatural. Eu não acreditava e não podia acreditar. É algo diferente de um momento de convicção ou de um momento de descoberta. Mas ainda assim se tornou óbvio para mim, como disse Pascal, “do jeito que fui feito, não posso acreditar”. 

Como disse, você escreveu esse livro a vida toda. 
É muita gentileza você notar isso com tanta ênfase. 

Esse longo caminho que o levou a sua inquestionável objeção à fé religiosa foi fácil ou doloroso? 
Acho que foi menos doloroso do que a experiência de muitos dos meus amigos cristãos, muçulmanos e judeus após investiram tantos anos da vida em uma fé que sempre se mostrou inútil. Para mim, é um compromisso intelectual, que é tentar fazer as pessoas entenderem que a melhor vida é a que estuda a razão, ironia, literatura, ciência, humor. E que há outras coisas que fazem a vida a não valer a pena. Nós não devemos nada à ditadura do sobrenatural. 

Será que isso tem algo a ver com nossa fragilidade, com a nossa “essência de vidro”? É uma bela definição do roteirista francês Jean-Claude Carrière, que escreveu sobre a nossa “essência de vidro”. 
Para mim, não há dúvidas. Somos uma espécie parcialmente racional que tem muito medo da morte, do desconhecido, do escuro. Mas também é muito presunçosa, diferentemente do que outros animais. Acreditamos que o universo foi criado para nós. E isso nos convenceu de que nada foi por acaso. Nós temos de ser o centro, o objeto de tudo. Claro! Entre o nosso medo e o nosso egoísmo, é muito fácil vender a religião para nós. É claro que somos o centro de tudo, com o sol girando em torno de nossa terra! Nada seria mais provável. É tudo para mim, para moi. E é muito difícil perceber que tudo isso é besteira. 

Seu livro ilustra muito bem como a religião foi prejudicial ao longo dos séculos e quantas atrocidades foram cometidas e ainda são cometidas em nome de Deus. 
Não em nome de Deus, mas por causa da crença em Deus. 

Mas ao mesmo tempo há razões por detrás delas [religiões]. E essas razões são a luta constante pela dominação, pela expansão, além do medo constante daquilo que é diferente. Medo e desprezo pelo que é diferente. Você acredita que, sem a religião, essas lutas acabariam? 
Não. Vou dar um exemplo. O cristianismo copiou o judaísmo. E o islamismo copiou o cristianismo e o judaísmo. São plágios, mas o monoteísmo é original. É a suposta aliança entre Deus e o povo judaico. Segundo os judeus, Deus os mandou rezar toda manhã, e os homens têm de dizer: “Graças a Deus que não sou mulher”. E as mulheres dizem: “Graças a Deus, eu sou o que sou”. E ambos devem agradecer por não serem gentios ou escravos. Mas isso não foi criado por Deus, mas pelos homens. Pelos "homens", para ser exato, do sexo masculino. Assim eles mantinham as mulheres em seus lugares. Assim é fácil. Só um idiota não vê isso. Deus não decidiu isso. Os homens usaram a religião para controlar as mulheres. No entanto, o impulso por controlar as mulheres existiria mesmo que não acreditassem em Deus. Só que seria mais difícil convencer as meninas de que elas eram propriedade dos homens se não dissessem que esse era o desejo de Deus. Dizendo que era o desejo dos homens, elas não ficariam surpresas. Dizendo que era a vontade de Deus, elas poderiam aceitar, como a exemplo da existência de escravos. Deus quer que haja escravos. É diferente de os homens quererem possuir outras pessoas. Então, com o uso da religião, com a invenção da divindade, você pode disfarçar o que obviamente seria uma ditadura débil e hipócrita criada pelo homem. Então livrar-se da ideia do sobrenatural é um passo – apenas um, mas o mais importante –, talvez o primeiro passo, talvez o maior passo no caminho para a emancipação. 

Até ler o seu livro, eu não sabia quantas criaturas divinas tinham nascido de virgens como a Maria. Você diz Buda, Krishma, Perseu, Hórus, Mercúrio... 
Deuses civilizados. Eu não conheço nenhum deus na mitologia - escrevi um parágrafo sobre isso - que não tenha nascido de uma virgem. Seria impossível o cristianismo vender a sua religião se não tivesse dado continuidade a essa tradição egípcia, asteca, persa, mongol. Até Buda nasceu de um corte no corpo de sua mãe. Tudo, menos pelo canal vaginal. Uma via impura. Deus, por alguma razão, prefere usá-la como uma mão única. 

Isso seria o medo eterno do sexo ou a necessidade de criar, para Deus, uma origem diferente do sistema biológica humano? 
Com certeza é o medo que a religião tem do sexo. Mas também é a repulsa masculina pelo que o homem mais deseja. Os homens precisam das mulheres e não gosta do fato de que precisam delas. Eles precisam muito delas e odeiam ter de precisar. Eles repugnam essa necessidade. E a religião transformou isso em um sistema e o torna sagrado. Minha primeira mulher era ortodoxa grega. Era cristã oriental. Quando ela menstrua não podia ir à igreja. Não podia receber o sacramento da missa. Acho que isso também valia para as católicas e com certeza para as judias. E a repulsa pelos fluídos menstruais femininos é muito comum no islamismo e em outros cultos. Isso vem da antropologia humana, não vem do céu, dos planetas, não vem do sol ou da lua. Vem de formas muito primitivas da antropologia humana. Isso é a primeira coisa é que preciso saber. 

Falemos das três religiões monoteístas. Você mergulhou na leitura das Escrituras, em uma mesma história contada de três maneiras diferentes. Mas não ficou claro para mim como vê os três homens mais conhecidos da humanidade: Moisés, Maomé e Jesus. Fale sobre eles. 
Moisés é uma figura mítica que foi inventada muitos séculos após a sua suposta morte. O Torá, a Bíblia judaica, tem aproximadamente quatro autores. O Pentateuco, os primeiros cinco livros do Velho Testamento, 

Moisés inventado? 
Os estudiosos da Bíblia sugerem pelo menos quatro autores que se contradizem e às vezes se sintetizam. Ninguém, além dos judeus fanáticos, acredita que Moisés foi o autor do Torá ou que Deus a ditou para ele, o que, nesse caso, ele seria autor de segunda mão. Maomé, que também teria escrito o livro de Deus – ditado pelo arcanjo Gabriel – não é um figura tão mítica, tão lendária. Provavelmente ele tenha existido. É bem possível que tenha existido. Ele está nesse limite, entre a existência e a lenda. Jesus de Nazaré está ainda mais nesse limite, como Guilherme Tell, Robin Hood e o Rei Artur. Com certeza, muito do que foi escrito sobre Jesus foi feito, como no caso de Moisés e Maomé, séculos após a sua morte por pessoas que evidentemente não o conheceram, pessoas muito tendenciosas. Mas o esforço que fizeram para tornar isso realidade sugere que houve alguma participação de um personagem histórico. Em todo caso, há o desenho de criar uma história que fortalece uma crença. 

Como você descreveria Jesus na época em que viveu? 
Na melhor das hipóteses, os seus partidários que escreveram sobre ele não concordam sobre o seu nascimento, sua vida, sua morte e sua suposta ressurreição. Os quatro evangelhos se contradizem sobre isso. Mas suponhamos que eles tenham tentado fazer o melhor possível, havendo concordância em relação à morte horrorosa. Ou não horrorosa. Para mim, a pergunta mais importante é: é legítimo que os cristãos digam “alguém morreu pelos seus pecados” sendo que essa pessoa na verdade não morreu? Imagine uma questão moralmente mais importante: se alguém se joga em cima de uma bomba que explodiria em uma sala de aula e absorve o impacto, morrendo para salvar as outras pessoas, podemos respeitar isso. E se for diferente, E se essa pessoa puder se levantar dois dias depois e disser: “Eu estou ileso”. Isso diminui a admiração que temos pelo sacrifício. O cristianismo tem todas essas questões morais que não foram resolvidas. 

Voltando às escrituras, você disse que o Velho Testamento foi um pesadelo, mas o Novo Testamento foi mais cruel... O que é tem de tão terrível? 
O velho Testamento é um pesadelo porque tem o mandado divino oficial da limpeza étnica, como chamamos hoje, a destruição de outros povos. Na verdade, é uma limpeza étnica genocida que destrói até a última criança, dos midianistas, dos amalecitas e outros. Essas raças deveriam desaparecer. Suas terras deveriam ser tomadas. E se houvesse sobreviventes, de preferência moças, elas deveriam ser escravizadas e por aí em diante. Era um mandado divino para tudo isto: escravidão, genocídio, assassinatos de crianças, etc. E roubo, conquista, desapropriações. Imperialismo do pior tipo. Depois que os midianistas, amalecistas e moabitas foram destruídos, pronto, eles não sofreriam mais por não serem judeus ou por não terem uma aliança com Deus. Mas aí eles já estavam mortos e pronto, não havia inferno. Mas, pelo Novo Testamento, eles seriam torturados após a morte, para sempre. Essa ideia tão cruel nasceu com Jesus, que disse pela primeira vez: “Se você não concorda com o que ofereço, saia daqui e vá para o fogo eterno”. Acho essa é a ideia mais cruel já proposta na História, hoje muito pregada pelos assassinos suicidas do Islã. É o ensinamento centro de sua doutrina perversa. 

Por outro lado, sua leitura do Corão o fizeram dizer que o Islamismo é ao mesmo tempo é mais interessante e a menos interessante das religiões monoteístas. Falemos do que é o mais interessante no islamismo. 
O islã alega ser a culminância. Talvez devemos dizer a “consumação” da “revelações” de Abraão, Moisés, Jesus. Ele não as nega, apenas diz que agora Deus as completará com suas últimas palavras, depois das quais não se precisar questionar mais nada. Sem mais perguntas porque todas já foram respondidas. Só precisamos reconhecer as boas novas e nos ajoelhar diante delas. É uma doutrina muito perigosa, é claro, porque sugere literalmente que a época do questionamento humano chegou ao fim. Que já temos as informações de que precisamos. E nada pode ser pior do que isso. A mensagem do Corão ainda traz, no fundo, uma ameaça indireta: “Se você não concorda, há algo muito errado em você e você precisa entrar na linha”. E as medidas a serem tomadas devem ser muito severas. 

Mas isso também é válido para outras religiões monoteístas? 
Sim, é verdade. O sr. Ratzinger, Herr Ratzinger, o bávaro que se diz “bispo de Roma”, e cujos partidários, mas não eu, o chamam de “papa”, disse recentemente que a Igreja Católica Romana é a fé verdadeira. É claro que ele não poderia dizer outra coisa. Os ensinamentos da igreja estão aí, e ele quis reafirmá-los porque houve um enfraquecimento da doutrina cristã. Mas isso é dito desde antes do profeta Maomé. Acho que a diferença é que os clérigos muçulmanos dizem: “Nos conhecemos a Bíblia [cristã], mas a nossa vem depois, é a última, é a definitiva”. É mais parecido com o que os cristãos falam sobre os judeus. Ou dizem que eles [judeus] fizeram tudo errado, que mataram Cristo, que são hereges; ou os veem com bons olhos e dizem que agiram bem, que inventaram o monoteísmo e que só precisam entender que o Messias já veio, que precisam mais esperá-lo. Para mim, como ateu, todas as religiões são falsas. Elas são falsas do mesmo modo: preferem a fé à razão. 

Há um capítulo muito interessante no seu livro, o mais generoso, eu diria, no qual você faz a pergunta: “As religiões fazem as pessoas se comportarem melhor?” E surpreendentemente você diz sim quando fala de Martin Luther King. 
Não, eu digo que não. Lamento. 

Eu entendi que você... 
O que eu disse é que a luta pelos direitos civis dos afro-americanos, dos negros americanos, estava pronta muito antes de o dr. King nascer e foi criada por ateus, leigos e negros. 

Você reconhece o papel importante que ele teve? 
Retoricamente, a justificativa para o racismo e a escravidão era cristã, especialmente a cristã. É muito inteligente, retoricamente, poder usar a linguagem do cristianismo dialeticamente, mas não ajuda a provar que o racismo e a escravidão são moralmente condenáveis. Nos termos do Velho e do Novo Testamentos, eram um caso encerrado. É apenas uma grande vitória da propaganda: uma vitória retórica porque a religião nunca fez ninguém se comportar melhor. Mas certamente não poderemos dizer que religião não fez as pessoas agirem pior ou não poderíamos usar a justificativa cristã para a escravidão por mais de 200 anos e a justificativa judaica antes disso. Todas as justificativas para a escravidão são religiosas. 

Você pertence a um pequeno e seleto grupo de evolucionistas que propõem um Iluminismo renovado, centrado no homem. Pessoas como Richard Dawkins e Daniel Dennett, que se chamam de brights, iluminados. 
Vou definir assim: eu não posso dizer que tenho uma luz interna. Se você disser que vê isso em mim, eu fico honrado. Mas eu não posso dizer que você deve me ver assim porque seria arrogante de minha parte. O centro do sistema é o ser humano ou a humanidade. Passamos muito tempo tentando mostrar às pessoas que foi a igreja que nos quis convencer de que o universo todo girava ao nosso redor. Por isso não gostavam do Galileu. Queriam que acreditássemos que o Sol girava em torno da Terra, que o universo todo estava centrado em nosso globo. Nós dizemos às pessoas ao contrário. Nós não estamos nem na periferia distante do universo conhecido. É hora de entendermos como nosso papel nisso tudo é pequeno. Só quando tivermos um senso de proporção é que provavelmente poderemos ver isso de forma racional. 

Mas a “luz interior” também é uma definição de Deus. E há outras. Por exemplo, eu peguei do filósofo de esquerda Toni Negri, que não é exatamente um homem religioso. Ele diz que a única definição possível para Deus é o excesso, a superabundância, a alegria. 
Nós não usamos a razão o suficiente. Nós negligenciamos nossas faculdades, do raciocínio, questionamento e ceticismo. Nós não a usamos de mais, nos a usamos de menos. Será um grande dia quando isso existir em abundância. 

De todo o modo, podemos acreditar que a humanidade está evoluindo em direção a esse esclarecimento? 
Não acho que a humanidade esteja evoluindo. 

Nem um pouco? 
Não. Acho que no momento estamos regredindo. As forças da teocracia crescem muito rápido. E de modo mais confiante. E com mais violência e mais adeptos que as forças da razão. O período do esclarecimento humano pode parecer uma fração de segundo muito breve, muito pequena na evolução humana, entre o ano de 1680 e hoje. E talvez esteja para sofrer uma eclipse. 

Muito obrigada sr. Christopher. Foi muito bom conversar com você.

dezembro de 2011

dezembro de 2011 

Pequeno Almanaque do Reacionário de Sofá (também conhecido como Almeidinha de Merda e Perfeito Idiota Brasileiro)


Para os machistas, racistas, homofóbicos de plantão: Pequeno Almanaque do Reacionário de Sofá



As redes sociais proporcionam meios rápidos e eficientes para toda e qualquer pessoa expor, rapidamente, de forma descompromissada e atingindo um público cada vez mais amplo, suas opiniões. Isso não é algo negativo, pelo contrário, é uma das coisas que mais me fascina no mundo virtual. Os comentários e opiniões resultantes dessa liberdade retratam, porém, uma realidade das mais preocupantes e que, para além do ambiente virtual, dizem muito sobre a nossa sociedade.
Se não há como discordar do fato de que ninguém é obrigado a conhecer razoavelmente um assunto qualquer, acho especialmente alarmante o número de pessoas que, sem se debruçarem um segundo sequer sobre temas polêmicos e delicadíssimos, expressam suas opiniões pré-moldadas com a desenvoltura de quem sabe realmente do que está falando. Pois bem: opiniões pré-moldadas existem em todos os espectros ideológicos e, para além do campo político propriamente dito, atingem inclusive campos do conhecimento técnico, como o direito, a medicina e a economia. Vou abordar, porém, durante esta coluna, apenas uma classe de comentários: os dos reacionários de sofá.
Os reacionários de sofá são aqueles que, preguiçosamente, no conforto de suas residências, absorvem passivamente as opiniões vociferadas pela grande mídia contra toda e qualquer posição política que possa implicar uma mudança positiva para um grupo com o qual ele não se identifica. Outras vezes, eles não precisam nem mesmo recorrer à mídia para terem uma opinião qualquer sobre um assunto com o qual ele não tem o mínimo de contato: basta recorrer aos preconceitos que lhe foram incutidos na infância.
São quase sempre individualistas, pois não conseguem cogitar a defesa de um interesse qualquer que não seja o seu próprio. Também gostam de pautar os seus discursos por alarmismos apocalípticos, derivando conseqüências genéricas gravíssimas de medidas que muitas vezes têm um escopo bastante restrito. Ressentem-se ferozmente de terem nascido no Brasil e odeiam os brasileiros, a quem, do sofá de suas casas ou da cadeira de suas escrivaninhas, taxam de passivos, indolentes, comodistas e estúpidos.
Pois bem: essa é uma pequena coletânea de conceitos caros a esse tipo de usuário das redes sociais que pretende ser uma modesta contribuição para estudos posteriores dessas mentalidades tão peculiares. Separei alguns verbetes sobre os quais nossos reacionários adoram opinar. Estou aberto a contribuições.
Atenção: as opiniões abaixo não retratam a opinião deste colunista. Na verdade, são o seu oposto.


Cotas Raciais
1. Vão instaurar o racismo no Brasil. 
2. Racismo contra brancos. 
3. Tem que melhorar a educação pública. 
4. Trabalhei para pagar o cursinho dos meus filhos e querem dar as vagas deles para quem não pagou. 
5. São inúteis, pois o Brasil não é racista. 6. Sou contra, pois minha bisavó era negra e nasci branco. 
7. E a igualdade, coméquifica? 
8. Governo premiando a vagabundagem. 
9. Meu vizinho é negro e é mais rico do que eu. 
10. Meu cunhado é negro e trabalhou honestamente pra pagar o cursinho dos filhos.

Racismo
1. Não existe no Brasil. 
2. O racismo dos negros contra os brancos é maior do que o dos brancos contra negros. 
3. Se eu andar com uma camisa escrita 100% branco eu vou preso. 
4. Tenho vários amigos negros, mas [preencher com conclusão preconceituosa a sua escolha]. 5. Deveria ter o dia do Orgulho Branco. 
6. Todo mundo protesta contra o racismo, mas ninguém protesta contra a corrupção.

Homossexualidade (pronunciar “homossexualismo”)
1. Doença que precisa de tratamento. 
2. Falta de vergonha na cara. 
3. Homossexuais querem ter mais direitos do que eu. 
4. Abominação aos olhos de Deus. 
5. Imoralidade. 
6. Falta de “couro” na infância. 
7. Homossexuais querem converter as crianças ao homossexualismo. 
8. Homossexuais são pedófilos. 
9. Eles querem ser respeitados, mas não se dão o respeito. 
10. É por isso que o Brasil não vai pra frente.

Movimento gay
1. Prega a promiscuidade. 
2. Daqui a pouco vai ser proibido ser hetero. 3. Quer acabar com a religião. 
4. Quer acabar com a família. 
5. Daqui a pouco não vou poder dizer aos meus filhos que é errado ser gay. 
6. Sinônimo de ditadura gay. 
7. Quer converter as crianças ao homossexualismo (sic). 
8. Por que eles não lutam contra a corrupção? Lamentável! 
10. É por isso que o Brasil não vai pra frente.

Feminismo
1. Chamar de feminazis. 
2. Preconceito contra homens. 
3. E a igualdade, coméquifica? 
4. Quer desestabilizar a família. 
5. Falta de sexo. 
6. Falta de louça pra lavar.
7. Feministas são feias. 
8. Feministas são lésbicas. 
9. Não sou feminista, sou feminina. 
10. Por que elas não lutam contra a corrupção? Lamentável.

Marcha das Vadias
1. Dizem que são vadias e depois não querem ser estupradas. Absurdo! 
2. Comeria todas elas. 
3. Só tem gorda mostrando os peitos. 
4. Não se dão o respeito. 
5. Não respeitam nossas crianças. 
6. Querem arrumar um macho. 
7. Falta de louça pra lavar. 
8. Atrapalha o trânsito. 
9. Deviam protestar contra a corrupção. 
10. É por isso que o Brasil não vai pra frente.

Marcha da Maconha
1. Querem drogar as nossas crianças. 
2. Afronta à moral. 
3. Bando de vagabundos. 
4. Daqui a pouco vão vender crack na porta da igreja. 
5. Polícia neles. 
6. Atrapalha o trânsito. 
7. Está tudo invertido. 
8. Saudades da ditadura. 
9. Falta de lote pra capinar. 
10. Deviam protestar contra a corrupção.

Ditadura Militar
1. Naquele tempo não existia corrupção. 
2. Naquele tempo não existia maconha. 
3. Naquele tempo não existia homossexualismo. 4. Naquele tempo não existia violência. 
5. Naquele tempo as escolas eram de primeiro mundo. 
6. É uma coisa boa, pois brasileiro não sabe votar. 
7. Salvou o Brasil da ditadura comunista. 
8. Poucas pessoas foram mortas e torturadas e quem foi morto ou torturado mereceu. 
9. Saudades daquela época! 
10. Todo mundo critica a ditadura no Brasil, mas ninguém critica Cuba. Lamentável!

Direitos Humanos
1. Chamar de “direito dos manos” e se achar genial. 
2. Direito dos vagabundos. 
3. Direitos Humanos para humanos direitos. 
4. Ninguém defende os direitos humanos das vítimas. 
5. Defensor dos direitos humanos devia ter sua filha estuprada. 
6. Está tudo invertido. 
7. A culpa da violência é desse pessoal que defende os direitos humanos. 
8. Um cidadão de bem não pode nem espancar e torturar um vagabundo que tentou roubar seu tablet. 
9. Na época da ditadura não existia isso e era tudo muito melhor. 
10. Ficam defendendo bandido, mas deviam lutar contra a corrupção. Acorda Brasil!

Povo Brasileiro
1. Não gosta de trabalhar. 
2. Não sabe votar. 
3. Tem o governo que merece. 
4. É ladrão. 
5. Não tem cultura. 
6. Só pensa em futebol, carnaval e cerveja. 
7. É o povo brasileiro que estraga o Brasil. 8. Só sabe reclamar. 
9. Mudei para Miami por causa do povinho que vive no Brasil. 
10. Não tem moral. 
11. Não luta contra a corrupção! Acorda Brasil!

Corrupção
1. Culpa do brasileiro que não sabe votar. 
2. Pena de morte para políticos corruptos. 
3. Culpa do PT. 
4. Não existia na época da ditadura. 
5. Todos os brasileiros são corruptos (menos eu). 
6. Não existe nos Estados Unidos. 
7. Não existe na Europa. 
8. Está tudo invertido. 
9. Ninguém luta contra a corrupção. 
10. Como todo mundo é corrupto e não sabe votar, ninguém tem o direito de reclamar da corrupção, pois o Brasil tem o governo que merece.

E por ora encerro esse pequeno almanaque. Se essas são as suas opiniões, parabéns: você é um perfeito reacionário de sofá que, surfando no mais rasteiro senso comum, não contribui em nada para o avanço da discussão desses temas. 

Se não, você talvez pudesse pensar em adotar esses conceitos para você. É certeza de aplausos nos ambientes virtuais e vai te poupar muitas infindáveis discussões via facebook com outros reacionários de sofá que constituem, com certeza, o tipo mais teimosamente imune à argumentação da internet. 

Se vocês se recusam a adotar os conceitos acima colocados, deixo para vocês uma dica: porque vocês não lutam contra a corrupção? ACORDA BRASIL!!!!
(brincadeira)

** Pedro Munhoz (@pedromunhoz5) advogado e historiador. Escreve no Bhaz às quartas-feiras.
Bhaz

domingo, 23 de dezembro de 2012

Não, ainda não estou no inferno. Sinto muito, irmões cristões em cristo

Copiei de Maria Nanquim
Gravações obtidas por nossa reportagem mostram, ao contrário do que muita gente pensa, que eu, Saulo Çoberto Xequinel ainda não estou no inferno. Explico.

Tenho 60 anos e já fiz meu check-in, a bagagem foi despachada e aguardo a chamada para meu último voo, se é que depois de morto alguém pode voar.

Como tenho modestos planos para viver mais uns vinte anos, e sem deixar de cometer os excessos com a moderação devida, não adianta a torcida e os abaixo-assinados dos cristãos católicos e evangélicos aqui de Antonina do Cacete a Quatro porque, simples assim, daqui não saio e daqui ninguém me tira!

De modo que, irmões cristões em cristo, parem de congestionar o 0800 do Inferno Corporation, continuem pagando o dízimo e até o juízo final, quando nos encontraremos nas margens dos lagos enxofrosos do cramulhão.